sábado, 28 de março de 2009

Simples

"A plantação é livre. A colheita, obrigatória"

domingo, 22 de março de 2009

Intimista

É muito artístico e o público pode não comprar a ideia.

É assim que os possíveis distribuidores do filme "The imaginarium of Doctor Parnassus", de Terry Gilliam ("Os 12 macacos" e "Irmãos Grimm") encaram o longa, filmado em 2008, último filmado por Heath Ledger, que morreu em janeiro do mesmo ano. O filme conta a história de um mágico viajante, que oferece aos clientes muito mais do que esperam.

Os homens que buscam grandes vendagens temem por não lucrarem tanto com um possível lançamento, em se tratando de ter um filme artístico com Ledger, reconhecido este ano com Oscar de melhor ator coadjuvante por "Batman - O cavaleiro das trevas", além de já ter marcado também em "O Segredo de Brokeback Mountain" (indicado a melhor ator, em 2006).

Ledger morreu sem finalizar as gravações, que tiveram de ser continuadas por Johnny Depp, Colin Farrell e Jude Law - o que, segundo os envolvidos, não foi um problema, pois o personagem vive diferentes fases, que podem ser interpretadas por diferentes atores.

E é nesse medo, que o projeto não tem data para lançamento.

Não seria subestimar demais o público, ao julgar de forma prévia a aceitação da obra? O filme de arte costuma ser considerado por muitos como sinônimo para algo um pouco acima do compreensível, do "digerível", ou complexo - chamado pelos críticos de intimista! Mas não pode ser encarado como sinônimo para algo ruim, de baixa qualidade e que não mereça ser comercializado.

É uma decepção se deparar com esse pensamento de empresas acostumadas a lançar mega filmes barulhentos, com excesso de efeitos artificiais...

É uma decepção ver esse medo sobre o que os admiradores de Ledger pensarão de um trabalho um pouco diferente de filmagens "teens" feitas anteriores. O que seria de grandes títulos que dificilmente chegam às salas de shoppings e cinemas populares, se pensassem sempre em quantos milhões irão lucrar?

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cotidiano

Nosso dia-a-dia é cheio de contatos que adquirimos com o passar da vida. Mario Prata, escritor contemporâneo e direto, de bons títulos, e sem rodeios, jornalista e também roteirista de algumas novelas, resolveu juntar em um livro lembranças e histórias vividas com seus contatos de agenda telefônica.

Em "Minhas Mulheres e Meus Homens", Prata traz uma série de contos deliciosos, que segundo ele diz, viveu com diversos conhecidos (muitos deles famosos). É leitura válida com certeza. São fatos muitas vezes rotineiros, que contados de forma atraente e dinâmica, arrancam risadas, impressionam e até fazem refletir. É o que costumo trazer aqui nessa página, com publicação de ocorridos que uma vez descritos, parecem contos inventados e histórias impensáveis. É quando alguns visitantes leem e se perguntam se são mesmo histórias reais. E são.

Entre os nomes da lista de Prata estão Chico Buarque, Hebe, Maitê Proença, Sônia Braga, Arnaldo Jabor, Marília Gabriela ou ainda Gabriel García Márquez (!!) e Ruth Cardoso. Apenas alguns dos nomes dessa extensa lista. Entre eles, um verbete que destaco e transcrevo aqui, envolvendo o compositor Antonio Pecci Filho, o Toquinho. Ele aparece muito engraçado, em uma situação comum de elevador, com um desfecho inusitado. Assim, Prata conta:

"Estamos nós dois no elevador do prédio dele, nos Jardins. Nós dois e um garotinho que acaba de entrar. Uns cinco anos. Mal alcançava o número seis. Apertou. Apertamos o cinco.
Ele mostrou a língua para o garoto.
O garoto mostrou a língua para ele.
Ele mostrou a língua para o garoto.
O garoto mostrou a língua para ele.
Estamos chegando no quinto. A última língua foi do garoto. Mas o Toquinho não admite perder. Nada e nunca. Na hora que saímos e a porta está quase fechada, na frestinha que sobrou, ele mostra a língua, vitorioso, e bate a porta.
Mas lá dentro, o garoto ficou na ponta do pé e, pela janelinha, numa fração de segundo, mostrou a língua.
O Toquinho fica puto e sai correndo pela escada a toda. Chega no sexto andar junto com o elevador que se abre, mostra a língua para o garoto e volta correndo.
-Ganhei, diz, ofegante e suado."

domingo, 15 de março de 2009

Papelzinho

“A Voz da Igualdade”, pregada no filme “Milk”, chega às salas do Brasil um tanto quanto enfraquecida ou sem apoio. É que a causa do ativista gay Harvey Milk, belamente retratada a partir do roteiro original de Dustin Lance Black (premiado com o Oscar), não teve apoio do dublador brasileiro de Sean Penn, Marco Ribeiro, que tirou o corpo e sua voz do projeto.

Acontece que o dublador não se sente bem em dar sua voz a um personagem homossexual, sobretudo, vejam só, que luta pela causa gay. Mas acontece que quem perde não é Penn (vencedor do Oscar de melhor ator), nem tão pouco, aqueles, maioria, que preferem os títulos no máximo legendados e não por vezes falseados, por conta de vozes desconhecidas e até muitas vezes aquém da interpretação que merece o ilustre artista em cena.

Que papelão! Mas ele justificou. É a religião!

Ele é pastor de uma igreja protestante e não quer ter sua voz, considerada conhecida em seu meio religioso, com a de um conhecido personagem militante gay, morto nos anos 70.

Em tempo (e em outra religião)...

Em Alagoinhas, no Pernambuco, os envolvidos no caso do aborto daquela menina de 9 anos, abusada por seu padrasto, podem estar livres da excomungação proferida em nome da santíssima Igreja Católica.
De acordo com nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ninguém teria sido excomungado no caso do aborto dos gêmeos da pequena garota. O ato de repúdio, anunciado pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, no início do mês, impossibilitou de participarem dos atos da igreja (receber hóstia, casar e etc), tanto a mãe da vítima, quanto a equipe médica, pelo o aborto consentido e realizado. Já o padrasto que estuprou a menina, esse não recebeu o tal do castigo.

Para ficar em pizza, a CNBB diz que houve apenas intenção de chamar a atenção para um fato, nada tão drástico. Nessa nova nota, o padrasto sim, pode estar incluído entre os excluídos. O Conselho teria garantido que no fundo, no fundo, a menina, a mãe e o pai dela, não estariam manchados entre os católicos. Até mesmo a equipe de médicos. Quão justo!

Culpados ou inocentes? O que será que decidirá, ao fim, os justiceiros da Igreja?

sexta-feira, 13 de março de 2009

Limpeza


O desabafo é sempre ali mesmo.
Dentro de seu carro, entre engrenagens do lava rápido,
Zunidos, barulhos e ruídos.
Entre um jato de sabão, outro de detergente e água, automáticos.

Sem presenciadores, testemunhas.
Ele grita alto. Louco.
Trancado no veículo, sozinho.
Com muito a resolver.
O grito é um só e estridente (mas o suficiente para não ser ouvido),
Em meio ao barulho daquelas escovas gigantes da máquina de limpeza, lá fora.
O bastante para descarregar, ali dentro, e de forma eficaz, o que sente.

Ao ver seu companheiro na pior, entorpecido.
Ao ter de fazer uma escolha difícil,
Na qual pende mais do que seu futuro.
Ao descobrir a sorte cruel à qual sua amiga está fadada.

E assim, ele possuía o carro mais limpo da redondeza.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Privação

Aquela, à quem dão o título de bem-sucedida,
Mostra-se, depois de uns copos, na mesa,
Diferente. Ou talvez nem tanto.
Quem sabe aí sim, é que está sóbria do que é.

"Ele não deixa eu ver meus amigos do samba.
Meus amigos são todos do samba!
Nossas melhores festas eram no samba...",
Desabafa ela, aos ouvidos de uma outra mulher,
Desconhecida, mas que ali também está.

"Eles nem vão mais em casa,
Eu não posso mais ligar para eles.
Tudo por causa dele."

Ele é aquele que a deu tudo,
Ajudou a chegar onde está hoje.
Mas ao salvá-la, tirou.
Sobretudo seu mundo do samba.