quinta-feira, 21 de junho de 2007

Ser brasileiro

Revirando uns arquivos aqui achei este texto que fiz para a faculdade...todos tinham de criar algo a partir da idéia "Ser brasileiro é"...achei engraçado na época os trocadilhos que surgiam na minha cabeça e logo escrevi isso:

Ser brasileiro é nascer num berço esplêndido, ter uma mãe gentil e ver seus irmãos acabarem com a casa;
Ser brasileiro é acordar em tempos nublados, sem aquele sol, que outrora brilhara em raios fúlgidos;
Ser brasileiro é perceber que não se pode sonhar com os raios de amor e de esperança que à terra não descem mais;
Ser brasileiro é ver os tristonhos campos cinza tendo mais queimadas, poluição e falta de cuidado;
Ser brasileiro é ter de avisar ao verde-louro que a paz do futuro não veio ainda, ou já passou despercebida e que as glórias a se orgulhar, só se for as do passado mesmo;
Ser brasileiro é sentir que em muitos lugares não existe justiça, tendo o filho fugir dessa luta desigual e temer até a quem o adora;
Ser brasileiro é tentar aumentar o volume do som da memória para poder ouvir pelo menos um ruído daquele grito, que não passa mais do que uma data 7 festiva no calendário.

Apesar de tudo isso, é difícil trocar esse imenso país por outro qualquer...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Vozes da rua

Esses dias, há duas semanas talvez, estava eu em um ponto de ônibus. Atrasado, sabia que era melhor não dizer nada, ao invés de culpar alguém, senão eu mesmo, por meu atraso. Costumo ser meio ligado demais nas coisas, uma questão de mania, tara. Às vezes me pego viajando, divagando sobre a vida alheia: vejo um rosto desconhecido e lá vai minha mente, costurando uma história, por mim suposta, tentando ilustrar aqueles rosto que acabo de ver. Gosto de observá-los, tentar saber como é sua relação com o seus (se os tem ou não) e por aí vai. Gosto sempre de pensar que cada um, isso mesmo, cada um, transeunte urbano, possuí uma história para contar.
A questão é que vi um homem desses que vive na rua e acaba se tornando uma personagem daquela cidade. Estava eu no ponto e vejo esse ator da realidade em cena. Contava que acabara de vir do carnaval de veneza. Segundo ele, "lá é bem mais encantador que aqui". Fiquei impressionado!Por pouco não o abordei para saber como ele havia chegado a tal afirmação. Se ele já esteve lá. Se era mais um doido pobre homem sem perspectiva de vida. E se sim, se realmente esteve em Veneza, porque estava na rua agora.
Mas não. Me contive. Pensei comigo mesmo que a magia dessas histórias, assim como os contos de Marcos Rey ou Charlies Dickens, são legais e o são exatamente por esse mistério, magia que envolve a escrita, afinal nem tudo precisa de uma razão para ser - simplesmente são.
Peguei enfim, meu ônibus, que me levaria dali a uma hora para Santos. Me pus a escrever, sobre essa questão dos que falam e dos que ouvem (quando ouvem), tomado por aquela cena lírica e real de um vivente da rua...

Gente
Tem estórias para contar
Tanta que ninguém quer ouvir
Só falar
Tanta estória perdida
Não achada
Que no tempo da imaginação
Se faz realizada

História que nem eu vivi
Instrumentos fora de uso
Vida em desuso
Andarilhos
Personagens
Sozinhos, vivem e fazem estórias
Mas ninguém ouve
Ele fala
A todos
Sem ninguém

Um, se diz príncipe
Todos riem
Outro, adormece no carnaval de Veneza
Ninguém ouve
Ri
Zomba
Perde de vista
Perde a vida que se apresenta
O conto
Perde
O mais vivo conto
Perde
A fantasia perde
De viver

O homem
sem nome
Cansa
Não
Relata
Agora, louco
Ninguém nunca saberá
Nem ouve
Vive?
Fala
Dele
Sua vida

Ninguém ouve