
Para o fim de julho, uma transcrição de palavras de um de meus poetas favoritos, Maiakóvski, russo, que teria hoje 116 anos (7 de julho de 1893 - 14 de abril de 1930 [já publiquei sobre ele aqui e aqui também]). Esse poema fala de uma blusa especial para ele. Eram muitos que se referiam a Maiakóvski como "um grandalhão vestido numa blusa amarela". Todos o conheciam por conta dessa vestimenta, que, por vezes, dava a ele um visual extravagante. Mas ele nutria mesmo um forte apego por esse acessório.
A blusa amarela
A blusa amarela
(Escrito por Vladímir Maiakóvski, em 1913. Tradução de Emílio Carrera Guerra)
Do veludo de minha voz
Umas calças pretas mandarei fazer.
Farei uma blusa amarela
De três metros de entardecer.
E numa Nevski¹ mundial com passo pachola²
Todo dia irei flamar qual D.Juan frajola
Deixai gritar amolengada de sono:
“Vais violar as primaveras verdejantes!”
Rio-me, petulante, e desafio o sol!
“Gosto de me pavonear pelo asfalto brilhante!”
Talvez seja porque o céu está tão celestial
E a terra engalanada³ tornou-se minha amante
Que lhes ofereço versos alegres como um carnaval
Agudos e necessários como um estilete pros dentes.
Mulheres que amais minha carcaça gigante
E tu, que fraternalmente me olha, donzela.
Atirai vossos sorrisos ao poeta
Que, como flores, eu os coserei
À minha blusa amarela
Do veludo de minha voz
Umas calças pretas mandarei fazer.
Farei uma blusa amarela
De três metros de entardecer.
E numa Nevski¹ mundial com passo pachola²
Todo dia irei flamar qual D.Juan frajola
Deixai gritar amolengada de sono:
“Vais violar as primaveras verdejantes!”
Rio-me, petulante, e desafio o sol!
“Gosto de me pavonear pelo asfalto brilhante!”
Talvez seja porque o céu está tão celestial
E a terra engalanada³ tornou-se minha amante
Que lhes ofereço versos alegres como um carnaval
Agudos e necessários como um estilete pros dentes.
Mulheres que amais minha carcaça gigante
E tu, que fraternalmente me olha, donzela.
Atirai vossos sorrisos ao poeta
Que, como flores, eu os coserei
À minha blusa amarela
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Na imagem acima e nas de baixo, Maiakóvski vestido em sua sempre blusa amarela:

Notas:
¹Nevski, de Nevsky. Referência ao príncipe Alexandre Iaroslavitch Nevski. Na Batalha do Neva, em 1240 Alexandre salvou a Rússia de uma invasão inimiga. Ele, aos 19 anos, recebeu o nome de "Nevsky" (em russo, "do Neva"). Depois disso, Nevski foi muito bem sucedido na Batalha do Lago Peipus em 5 de abril de 1242, quando expulsou invasores germânicos, cavaleiros teutónicos (ordem militar, vinculada à Igreja Católica, formada na Palestina, na época das Cruzadas, [fins do século XII]).
²pachola (ó):
Substantivo fem./ masc.
1. Pessoa boa, simples, ingénua, para quem tudo está bem.
2. Pessoa preguiçosa, vadia.
3. Pessoa chalaceadora, gracejadora, brincalhona.
Adetivo fem./masc.
1. Bom; bonito; embelezado.
³ engalanada: engalanar
Verbo
1. Ornar de galas.
2. Ornamentar.
3. Ataviar.
Adjetivo (Engalanado)
1. Ornado de gala; embandeirado.
23 comentários:
Sei lá... me passou sentimento de exuberância! Tal qual pavão que usa suas penas para atrair as fêmeas!
Li muito pouca coisa de Maiakovski, mas sou fissurado por uma canção do Caetano que musicou um poema dele, chamado O Amor. A Gal gravou no disco Fantasia e é bárbaro. Se não conhece, procure ouvir.
Eli,
Mas onde estão as fotos coloridas pra gente poder ver a tal blusa amarela?!?!?
A canção, a qual o Arnaldo se refere, é esta:
O Amor
(Caetano Veloso/Ney Costa Santos/Vladimir Maiakovski)
Talvez, quem sabe, um dia
Por uma alameda do zoológico
Ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa
Eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não podemos amar na vida
Com o estrelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver o que me cabe
Minha vida
Para que não mais existam
Amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
De sacrificar-se
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai seja, pelo menos, o universo
E a mãe seja, no mínimo, a Terra
A Terra, a Terra
bj,
Clé
Disse tudo, super Jairo! Exuberância.
Talvez (e provavelmente) era assim que Maiakóvski se sentia ao vestir essa blusa. E também o motivo para ele gostar tanto dessa tal vestimenta. Abração!
Arnaldo, essa eu não conhecia! Uma música baseada em texto de Maiakóvski! Que surpresa! Vou procurar mais sobre! Adorei!
Clélia! Que pena que os registros(raros) são poucos e os que há, são em preto e branco! Tecnologia da época (já vi gente amarelando as fotos da blusa, para dizer que a foto é da época [mas aí se peca em originalidade e fidelidade ao que a roupa era, de fato]). Obrigado pela indicação da letra da música!
Boa semana a todos vocês, viu?!
Ótimo post o teu Eli. Maiakóvski é leitura essêncial de todo poeta, nem que seja para nega-lo. Inspirado nele (e sua marcante blusa) estou rascunhando um livro de crônicas sobre o sentimento de espera(das quais postei duas delas no blog) em que o climax gira em torno de "algo" amarelo. Gostei de (re)ler o poema que me inspirou aqui no teu blog.
Ando sumido porque estou me recuperando adivinha de que: Influenza A! Pois é, sou mais um número da "estatística da gripe suína".
Forte Abraço Eli, boa semana!
Olá, Ives!
Não sabia que a blusa amarela estava, de certa forma, rondando suas escritas. Mas, por outro lado, acredito que foi isso que me motivou a transcrever esse texto. Logo, é texto inspirando texto. Pois tive vontade de publicá-lo (A blusa amarela) aqui, após, de fato, ter lido teus dois textos contendo essa cor. Que legal!
Vejo que você está na moda, não é? Pegando a gripe do momento! Mas o negócio é estar firme e forte! Estar bem hidratado e com imunidade lá em cima. Abração e boa recuperação!
Foi o que imaginei, Eli.
Mas é mesmo uma pena, Clélia, não ter registro colorido de algo que significava tanto para ele.
Caro Eli,
Aqui está a canção, na voz da Gal (5ª faixa do CD Fantasia, 1981). Tente ouvi-la...
bj,
Clé
Obrigado, mais uma vez, Clélia!
Acessarei sim!
Bacio
:-]
adoro, adoro!
belo post!
beijos eli!
Obrigado pela passagem, Andréa!
Beijão para você!
Cheguei a seu blog pelo google!!! Que bela surpresa aqui encontrei! Bela mesmo!!
Maiakóski, além de muito bom nos textos, era lindo! Com essas fotos que você postou, então, não há como não reconhecer a beleza natural e carrancuda dele!
Beijos e sucesso, viu?
Obrigado pela visita, Márcia!
Maiakóvski, dizem, era bonitão mesmo!
Ele próprio costumava fazer referências a si próprio, em suas escritas (poemas e cartas de amor), sobre sua estatura alta e porte que lhe dava o aspecto de gigante. Além de ser/parecer sempre carrancudo, também.
Beijo!
Adorei o blog. Já virei fã. Parabéns, Eli. Só vc pra me fazer lembrar da paixão por Maiakovsky.
Pois é, Nádia! Relembrar é, de fato, reviver!
Conheci Maiakóvski cedo (na 5ª série). Tem um outro post que fala sobre isso. De lá para cá me interessei cada vez mais por esse cara!
Beijo, beijo! Volte sempre que puder/quiser!
MAIAKOVISKI SEMPRE!!!
SEMPRE EM MIM, SEMPRE ATUAL, SEMPRE TÃO HUMANO!
BELO E PROFUNDO,
DOLORIDO, INCONSOLADO,
ATREVIDO E VANGUARDADISTA!
BELA FRASE QUE A ROSA EXPRESSA...
Maiacovski é exuberante também...Maiacovski é o maior de todos...um caminhão que atropela os burgueses...um lampião da poesia...e doce como um por do sol
Leia mais...Maiacovski é o maior!
Imaginação
E que tudo mais vá pro inferno é dele
Maiacovski não pode ser negado... impossível
Perfeito Márcia...um vulcão
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