
Ano acabando, após um tempo de sumiço, eis me aqui postando novamente. Parei por conta de meu projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), em meu quarto e último ano de jornalismo.
Para defender, escolhi com meu grupo, um tema que sempre gerou e ainda não superou o preconceito. Da mídia, das pessoas: o FUNK.
Decidimos contar a trajetória do segmento aqui na Baixada Santista, pois muito se escreveu a respeito do estilo do Rio de Janeiro, por conta de seus divulgadores lá no início, como Sandra de Sá e Tim Maia, por exemplo.
Letras com significados muito ligados à comunidade em que se vive, ritmo forte, atitude, bandeira a ser defendida. Assim pode ser classificado de forma muito resumida, o funk.
Nunca fui de ouvir esse tipo de música, questão de identificação. Ela nunca disse muito em minha vida. Quando começamos a freqüentar bailes, para colher imagens para nosso vídeo-documentário, a ser entregue no final do ano, estávamos prontos a encontrar pessoas diferentes, fora do meio que costumamos freqüentar. Lá, vimos uma característica que nem havíamos pensado: nós é que éramos os estranhos ali.
Encontramos uma mulher, que se tornaria nossa personagem principal, para contar como chegou e se desenvolveu o funk em Santos e região. Conhecida por Tia Elisa, essa mulher tinha mais histórias para contar do que imaginávamos, ao vê-la no palco, apresentando duplas que traziam seu som, sua mensagem a ser passada, defendida. Assim, fomos conhecendo o que queríamos mostrar em nosso documentário: o lado real.
Sabíamos que o envolvimento era inevitável. Defendendo ou não, queríamos mostrar o que aqueles homens, mulheres, jovens e artistas tinham a passar, longe da estigma criada pela mídia, que sempre viu como um som de marginais, de bandidos.
Lá, vimos que existiam trabalhadores, que muitas vezes saíam daquele baile e iam encarar um serviço durante o dia, para conseguirem seu sustento. Conhecemos eletricistas, cabeleireiros e outros profissionais, que à noite eram ídolos de muitos, em bailes funk. E o mundo ia se revelando para nós. O mundo de um grupo que ainda tem muito a lutar contra a imagem negativa à qual são ligados.
Por meio da Tia Elisa, chegávamos aos MCs (mestres de cerimônia), como são chamados os cantores. Alguns já famosos, outros começando sua carreira. A Tia começou há mais de 10 anos com o movimento funk e sofreu os preconceitos por essa escolha.
Em sua época, os artistas eram meninos, não sabiam muitas vezes como trabalhar em um som que servisse de referência e de cultura para aquela comunidade. Mas por andar com funkeiros, a tia perdeu muitas amigas de seu meio social, além de ser mal vista por familiares e vizinhos. Em casa, porém, não teve problemas. Seu marido entendeu, seu filho, por quem entrou no movimento do funk, teve seu apoio como produtora. A outra filha cresceu junto com aqueles meninos, que depois se tornariam artistas na Região, com sucessos de funk cantados por muitos.
Como se não bastasse, a Tia, que é madrinha do funk, trabalha ainda com animais de rua. Ela recolhe animais que ninguém nunca olharia, muito menos cuidaria. Leva-os para casa, trata-os e depois espera por “adotadores”. Atualmente são quase trinta gatos, além de cães, todos em sua casa.
Muito material conseguimos colher nessa pesquisa de campo. Material que tem a finalidade de desmistificar o que a mídia tornou sinônimo de criminoso, de sujo e de anti-cultura.
Chegada a apresentação do vídeo, após concluído, auditório cheio, conseguimos mostrar o nosso trabalho, que impressionou a muitos pelo poder de contar histórias de homens que fazem do funk seu ideal, seu meio de vida, sua profissão e tudo mais.
Conversamos com personalidades como DJ Marlboro, no Rio de Janeiro, lá sofremos um

acidente de carro e tivemos parte de nossos equipamentos roubados. Mas não desistimos. Conversamos também com Arnaldo Sacomani, jurado do programa Ídolos, considerado “cri-cri” de todos.
Enfim, conversamos com muita gente, a respeito do que achavam desse verdadeiro fenômeno cultural de um povo, que não pode ser ignorado, simplesmente por não fazer parte do grupo de pertencimento.
É polêmico, sempre foi. Encontramos dificuldades por isso. Muitos nem acreditavam em nosso trabalho, em nossa seriedade e compromisso com o tema.
Mas superamos, enfim, tudo e conseguimos mostrar nossa mensagem.
Fica a idéia de que não é necessário consumir esse tipo de música, afinal cada um tem seu gosto pessoal. É necessário que se olhe, observe com outro olhar. O movimento existe, os artistas do segmento existem, logo, não se pode considerar um movimento qualquer.
Ele tem seus significados e valores. Os bailes lotam, pois todos querem ouvir um som que diz muito sobre suas realidades, o que provavelmente nem um milhão de violinos de uma orquestra ali faria.
O lado ruim, exaltado por muitos, tem em todo estilo musical, mas o lado bom ninguém divulga, sobretudo quando é sobre funk.
Não ouça se não lhe agradar, mas reconheça que é um fenômeno cultural, que exerce influência sobre uma comunidade, que tem seus defensores-artistas, seu público-fã, tem sua linguagem própria.

MC Primo cantou em nossa apresentação. Um cara humilde, artista conhecido na região e fora daqui. Um exemplo do bom funk!
Terminada a faculdade, nota 10 nesse projeto, esperamos conseguir alterar alguma coisa, nesse mundo de preconceito em que vive o funk.
Em breve divulgo o vídeo que realizamos, em nosso projeto e também algumas músicas.
O que escrevi aqui é pouco por demais, diante o que presenciamos, vivemos e aprendemos!
Grupo de trabalho: Carla Yabico, Dalita Patrício e Camila Maximo
Professor-orientador, Wanderley Camargo
E que venha a formatura!

É isso!
:-]