domingo, 6 de novembro de 2011

Divã

Ela chega, diz oi e pede licença,
Antes de perguntar sobre um itinerário.
Logo se dá por satisfeita:
Interrompe o informante,
Ficando, assim, sem a informação completa que "necessitava".

Como se a primeira pergunta fosse uma desculpa,
Um pretexto - uma batida na porta a espera de um "pode entrar!",
Ela se põe a desabafar ao informante.

O informante, este o deixa de ser, de imediato,
Passando a ouvir curiosamente os fatos,
Não sabendo se está admirado:
Com a simplicidade/banalidade do caso narrado,
Ou com a facilidade com que pessoas abrem suas particularidades
A estranhos.

Em menos de dez minutos
O ouvinte fica sabendo:
Que ela tem uma colega de trabalho que mente,
Que ela não gosta de ficar ouvindo as mentiras dessa colega,
Que ela acredita passar a ser co-autora da mentira da colega (ao ouvi-la),
Que ela não concorda com o fato de a colega entregar atestado médico falso,
Que ela entende, porém, que a colega precisa dar atenção a seu filho de 2 anos,
Que mora com a avó,
Que não tem pai,
Que este pai (do garoto de dois anos) era viciado em álcool,
Que é bom para ela (a colega) respirar um pouco, tirar um descanso,
Que ela não delatará a colega em seu dia de falta "por motivos de saúde"
E que, no fundo, essa colega não é daquelas que se podem confiar!

Ao se preparar para iniciar outro relato seu,
Agora sobre a própria filha,
Que está na puberdade,
Que quer namorar,
O ônibus que ela esperava chega.
Ela se despede e agradece, com um "Muito obrigada!".
Agradecimento.
Mesmo que a informação que ela pedira
Tenha sido dada incompletamente.