segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Vai vencer!

Essa é a última postagem deste ano, 2007. Como no início me propus a colocar algo aqui ao menos uma vez por semana (o que foi dificultado por conta do encerramento da faculdade).
Mas tá valendo!

Pois bem, é hora de contabilizar o que ganhamos de bom e o que veio de mal.
É hora de planejar o que levaremos ao novo ano e o que deixaremos para trás, guardando somente o que da experiência negativa foi aprendido.

Para mim foi sim, um ano produtivo. Sente-se, apesar da sempre falta de trabalho e dinheiro, que as pessoas estão mais adaptadas ou pelo menos mais positivas. É sabido por todos que dinheiro sempre faltará, ou nunca virá na quantidade que todos gostariam. Mas o espírito de “vai melhorar” é mais presente entre os brasileiros.

Esta é apenas uma intenção de mensagem de fim de ano. Mensagem de que tudo seja bom e legal, como se quer, como espera. Desejos de sucesso e de desejos alcançados.
Para todos que aqui adentram vez e outra, para aqueles que aqui deixam experiências, palavras, para aqueles que querem um mundo de bem:


FELIZ ANO NOVO!

Mas feliz ano novo, de verdade! Sem aquelas palavras decoradas, ou ditas sem pensar. Que possamos cada vez mais olhar nos olhos das pessoas e trocar sinceridade, amor, bons desejos, amizade, vida e uma imensidão de bons sentimentos ESSENCIAIS para que a vida seja válida de ser vivida e propagada!

E que venha um 2008 daqueles, com as pessoas cada vez mais preparadas para “enfrentá-lo” e gozá-lo como se deve.
Aqui vai uma música muito linda de Gilberto Gil, na voz de Elis Regina, “Ensaio geral”, nesta versão, gravada em estúdio em 1966. Fala da expectativa do carnaval da época das marchinhas o desejo de ver seu bloco vencer.
Quanto a voz de Elis, há uma entonação alegre, quando tinha seus 18, 19 anos...
O sorriso aberto dela, presente em cada frase. A letra perfeita, que fala de um desejo de alcançar o sucesso. É uma mensagem muito forte. Ela é tão simples e tão positiva que despensa apresentações, explicações ou algo no sentido de entender o sentido.




O Rancho do Novo Dia
O Cordão da Liberdade
E o Bloco da Mocidade
Vão sair no carnaval
É preciso ir à rua
Esperar pela passagem
É preciso ter coragem
E aplaudir o pessoal

O Rancho do Novo Dia
Vem com mais de mil pastoras
Todas elas detentoras
De um sorriso sem igual
O Cordão da Liberdade
Ensaiado com carinho
Pelo Zé Redemoinho
Pelo Chico Vendaval

Oh, que linda fantasia
Do Bloco da Mocidade
Colorida de ousadia
Costurada de amizade
Vai ser lindo ver o bloco
Desfilar pela cidade

Minha gente, vamos lá
Nossa turma vai sair
Nossa escola vai sambar
Vai cantar pra gente ouvir

Tá na hora, vamos lá
Carnaval é pra valer
Nossa turma é da verdade
E a verdade vai vencer
Vai vencer!


E que venha 2008!
eLi
:-]

domingo, 2 de dezembro de 2007

É funk

Ano acabando, após um tempo de sumiço, eis me aqui postando novamente. Parei por conta de meu projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), em meu quarto e último ano de jornalismo.

Para defender, escolhi com meu grupo, um tema que sempre gerou e ainda não superou o preconceito. Da mídia, das pessoas: o FUNK.
Decidimos contar a trajetória do segmento aqui na Baixada Santista, pois muito se escreveu a respeito do estilo do Rio de Janeiro, por conta de seus divulgadores lá no início, como Sandra de Sá e Tim Maia, por exemplo.


Letras com significados muito ligados à comunidade em que se vive, ritmo forte, atitude, bandeira a ser defendida. Assim pode ser classificado de forma muito resumida, o funk.
Nunca fui de ouvir esse tipo de música, questão de identificação. Ela nunca disse muito em minha vida. Quando começamos a freqüentar bailes, para colher imagens para nosso vídeo-documentário, a ser entregue no final do ano, estávamos prontos a encontrar pessoas diferentes, fora do meio que costumamos freqüentar. Lá, vimos uma característica que nem havíamos pensado: nós é que éramos os estranhos ali.
Encontramos uma mulher, que se tornaria nossa personagem principal, para contar como chegou e se desenvolveu o funk em Santos e região. Conhecida por Tia Elisa, essa mulher tinha mais histórias para contar do que imaginávamos, ao vê-la no palco, apresentando duplas que traziam seu som, sua mensagem a ser passada, defendida. Assim, fomos conhecendo o que queríamos mostrar em nosso documentário: o lado real.
Sabíamos que o envolvimento era inevitável. Defendendo ou não, queríamos mostrar o que aqueles homens, mulheres, jovens e artistas tinham a passar, longe da estigma criada pela mídia, que sempre viu como um som de marginais, de bandidos.
Lá, vimos que existiam trabalhadores, que muitas vezes saíam daquele baile e iam encarar um serviço durante o dia, para conseguirem seu sustento. Conhecemos eletricistas, cabeleireiros e outros profissionais, que à noite eram ídolos de muitos, em bailes funk. E o mundo ia se revelando para nós. O mundo de um grupo que ainda tem muito a lutar contra a imagem negativa à qual são ligados.
Por meio da Tia Elisa, chegávamos aos MCs (mestres de cerimônia), como são chamados os cantores. Alguns já famosos, outros começando sua carreira. A Tia começou há mais de 10 anos com o movimento funk e sofreu os preconceitos por essa escolha.
Em sua época, os artistas eram meninos, não sabiam muitas vezes como trabalhar em um som que servisse de referência e de cultura para aquela comunidade. Mas por andar com funkeiros, a tia perdeu muitas amigas de seu meio social, além de ser mal vista por familiares e vizinhos. Em casa, porém, não teve problemas. Seu marido entendeu, seu filho, por quem entrou no movimento do funk, teve seu apoio como produtora. A outra filha cresceu junto com aqueles meninos, que depois se tornariam artistas na Região, com sucessos de funk cantados por muitos.
Como se não bastasse, a Tia, que é madrinha do funk, trabalha ainda com animais de rua. Ela recolhe animais que ninguém nunca olharia, muito menos cuidaria. Leva-os para casa, trata-os e depois espera por “adotadores”. Atualmente são quase trinta gatos, além de cães, todos em sua casa.
Muito material conseguimos colher nessa pesquisa de campo. Material que tem a finalidade de desmistificar o que a mídia tornou sinônimo de criminoso, de sujo e de anti-cultura.
Chegada a apresentação do vídeo, após concluído, auditório cheio, conseguimos mostrar o nosso trabalho, que impressionou a muitos pelo poder de contar histórias de homens que fazem do funk seu ideal, seu meio de vida, sua profissão e tudo mais.

Conversamos com personalidades como DJ Marlboro, no Rio de Janeiro, lá sofremos um acidente de carro e tivemos parte de nossos equipamentos roubados. Mas não desistimos. Conversamos também com Arnaldo Sacomani, jurado do programa Ídolos, considerado “cri-cri” de todos.
Enfim, conversamos com muita gente, a respeito do que achavam desse verdadeiro fenômeno cultural de um povo, que não pode ser ignorado, simplesmente por não fazer parte do grupo de pertencimento.
É polêmico, sempre foi. Encontramos dificuldades por isso. Muitos nem acreditavam em nosso trabalho, em nossa seriedade e compromisso com o tema.
Mas superamos, enfim, tudo e conseguimos mostrar nossa mensagem.

Fica a idéia de que não é necessário consumir esse tipo de música, afinal cada um tem seu gosto pessoal. É necessário que se olhe, observe com outro olhar. O movimento existe, os artistas do segmento existem, logo, não se pode considerar um movimento qualquer.
Ele tem seus significados e valores. Os bailes lotam, pois todos querem ouvir um som que diz muito sobre suas realidades, o que provavelmente nem um milhão de violinos de uma orquestra ali faria.
O lado ruim, exaltado por muitos, tem em todo estilo musical, mas o lado bom ninguém divulga, sobretudo quando é sobre funk.
Não ouça se não lhe agradar, mas reconheça que é um fenômeno cultural, que exerce influência sobre uma comunidade, que tem seus defensores-artistas, seu público-fã, tem sua linguagem própria.


MC Primo cantou em nossa apresentação. Um cara humilde, artista conhecido na região e fora daqui. Um exemplo do bom funk!

Terminada a faculdade, nota 10 nesse projeto, esperamos conseguir alterar alguma coisa, nesse mundo de preconceito em que vive o funk.
Em breve divulgo o vídeo que realizamos, em nosso projeto e também algumas músicas.

O que escrevi aqui é pouco por demais, diante o que presenciamos, vivemos e aprendemos!


Grupo de trabalho: Carla Yabico, Dalita Patrício e Camila Maximo

Professor-orientador, Wanderley Camargo


E que venha a formatura!

É isso!
:-]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Quando chegar a hora

Imagem by William Adolphe Bouguereau
Postei certa vez sobre as palavras belamente cativantes das poesias de Olavo Bilac. Em um dos comentários, Kátia acabou por deixar um outro trecho de uma poesia de Bilac. Era um fragmento de “In Extremis”, um texto que agora coloco aqui na íntegra. Ele fala de declarações de alguém que vai morrer à amada que o perderá. Acho muito intrigante e envolvente o tom de anúncio que a escrita tem. Muito boa.

In extremis (Olavo Bilac)

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! De um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! Postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...

E um dia assim! De um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! E este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais a morte...

Eu com o frio a crescer no coração, — tão cheio
De ti, até no horror do verdadeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! E eu morrendo,
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! A delícia da vida!

Associei então essa morte à um outro texto sobre despedida de quem se ama. Diferente. Dessa vez o texto ganhou vida e identidade perfeita! Musicada na voz de Elis Regina, a letra de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, para “Lapinha”, traz um clima muito festivo a um evento tido como obscuro e indesejável.Gravada em 1988, do disco “Fascinação”, Lapinha é uma versão diferente do texto de Bilac.


Lapinha (Baden Powell / Paulo César Pinheiro)

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Vai meu lamento vai contar
Toda tristeza de viver
Ai a verdade sempre trai
E às vezes traz um mal a mais
Ai só me fez dilacerar
Ver tanta gente se entregar
Mas não me conformei
Indo contra lei
Sei que não me arrependi
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Sai minha mágoa
Sai de mim
Há tanto coração ruim
Ai é tão desesperador
O amor perder do desamor
Ah tanto erro eu vi, lutei
E como perdedor gritei
Que eu sou um homem só
Sem saber mudar
Nunca mais vou lastimar
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Adeus Bahia, zum-zum-zum
Cordão de ouro
Eu vou partir porque mataram meu besouro




:-]

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dos 3

Dos heterônimos de Fernando Pessoa, o que mais me agrada é Álvaros de Campos. Seu romantismo ligado ao moderno e uma visão mais sóbria das coisas terminam por dar um tom de atualidade às escritas.
Tive meus primeiros contatos com seu autor, Pessoa, nas primeiras séries da escola e achei realmente intrigante "um cara ser ele e mais três ao mesmo tempo". Coisas da arte escrita...
Como costumo dizer, nem sempre é necessário tentar entender muito, apenas se alimentar, sentir, vivenciar...
Transcrevo aqui um poema conhecido, dessa figura, Campos, que mais adimiro das três. Fala de uma necessidade: a de amar, mesmo que seja ridículo.
Mas antes, amor.




Todas as cartas de amor são ridículas
Álvaro de Campos (21/10/1935)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas, como os sentimentos esdrúxulos, são naturalmente, Ridículas.)

****

ilustrações de José Sobral de Almada Negreiros, "homem de muitas artes", português (1893-1970)

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Humilhados e ofendidos

Fiódor Dostoiévski, um escritor russo que viveu de 1821 a 1881, chama a atenção por sua verdade na escrita. Não li muitas coisas dele. Mas sem dúvida, uma de suas obras, uma das menos divulgadas também, me deixou grandes lembranças. O título foi publicado originalmente no início da década de 1860. O exemplar que tenho data de 1962, velhinho, semi-ruído pelas traças e de folhas amareladas. Emprestei da mãe da minha ex-namorada. Li. Devolvi-o e emprestei de novo. Li novamente e ainda não consegui devolvê-lo.
Em Humilhados e ofendidos, o autor russo expõe uma tese presente em todas suas escritas: quem não sofre, não pode ser bondoso com o próximo. Quem não passa por processos de sofrimento, não será capaz de ser nobre e agir com amor para com o irmão, passando a ser ofensor e humilhador. Parece polêmico, mas ao longo da narrativa isso é explicado.Conflitos do ser humano, que muitas vezes é escondido e teme vir à tona. Amores e desamores extremos, a busca pela riqueza, mesmo que para isso, seus aspirantes joguem com o amor, como se este fosse uma carta na manga, pronta a ser lançada ao mais fraco.
Classes ofendidas, com suas vidas cheias de misérias e sem expectativas, buscam o poder existente no outro, e este outro usa de seu poder para humilhar os mais vulneráveis.
Personagens de duelam, em busca de um amor, mesmo que seja por meio da possessão do outro, por meio da humilhação de quem se gosta.
A solidão também é explorada nas páginas. A ruas de São Petersburgo, a Praça Vermelha silenciosa e solitária à noite...
A personagem central, que observa e participa da história, se confunde muitas vezes com a vida do próprio autor. O "homem subterrâneo" que teme em vão em aparecer, em mostrar seus extremos e, muitas vezes, suas situações "anormais".
Uma leitura válida, sem dúvida, pelo caráter humanamente real, pela característica nebulosa do ser que tanta polêmica causa a si mesmo - o homem.

A essa história eu diria que vários temas musicais se encaixam, mas neste caso, escolho duas opções. Elas expressam, para mim, o lado mais fraco, do humilhado, ofendido...


A primeira, de Samuel Osborne Barber (1910-1981), é um Adágio para cordas. É um tema concebido em tempos modernos, sob influências dos grandes nomes de séculos passados. Ficou conhecido por ser tema do filme Platoon (de Oliver Stone, de 1986), que trouxe de uma forma muito bem concebida o terror da guerra do Vietnã.
A canção, para mim, descreve um sentimento de culpa, em um tom extremamente reflexivo, como se rememorando todos os passos, erros cometidos. Culpa, choro: o reconhecimento:
A segunda, um também adágio, porém barroco (em Sol menor) e de Beethoven, expressa um outro lado da culpa: o arrependimento. Para mim, esse tom também reflexivo acaba em um ambiente mais positivo, onde o errante olha para o que cometeu, mas sabe que é tempo de se voltar para consertar. Parece doido pensar assim, mas é essa a impressão que tenho ao ouvir:


Adágio (do italiano, adagio) é um movimento lento na música clássica, normalmente abrindo passagem para movimentos mais alegres, como vivo por exemplo.

É isso...

:-]

sábado, 8 de setembro de 2007

Caravaggio


CARAVAGGIO* é bom. Insitgante, como muitos pintores. Cheio de detalhes e significados, como muitos outros. Gosto do toque perfeito e também do tom de inovação, que nem sempre teve a aprovação da igreja católica.
No caso das pinturas alusivas à Bíblia Sagrada, ele tira as personagens do céu, ou seja, sempre que retratou as personagens bíblicas, não as fez em nuvens, portas celestiais. Sempre optou por humanizar os santos, uma forma de provocar ou simplesmente de ambientar as situações na bíblia descritas, trazer para o mundo real.Com isso, o fundo de cada cenário é quase sempre escuro, voltando as atenções às figuras, santas, mas de uma santidade conquistada a partir de um caráter humano.
Aqui, só algumas das obras desse gênio das sombras e dos tarços humanos.
Chamado de São Mateus
Aqui Jesus aparece apontando para o velho e barbudo São Mateus, ordenando que o siga. E tudo se acontece num buteco, no meio de uma partida de cartas: estupefação geral perante essa heresia, da parte da igreja.
No quadro está a dúvida de Mateus (de boina ao centro) sobre ser ele mesmo o invocado, a expectativa dos jovens à direita, a indiferença do outro à esquerda, absorto no jogo. Há uma serenidade levemente desfeita pelo apelo da mão.
O martírio de São Mateus
Já aqui, a figura do carrasco, que arrebata o ancião adormecido para assassiná-lo, é como eixo de uma roda humana, na qual se refletem as mais diferentes atitudes diante da morte: desde a impassibilidade do jovem ricamente vestido, até o grito de horror do menino que foge, e o socorro sobrenatural trazido pelo anjo. Mas a carnalidade palpitante dos nus, ao lado da originalidade da concepção, despertou a reprovação de muitos.

Conversão de São Paulo
Paulo sempre perseguiu aqueles que criam em Deus. Martirizava-os, perseguia-os, aprisionava-os e flagelava-os. Certo dia, Paulo ouviu a voz de Jesus em clarão, que o mandava seguir até Damasco para lá encontrar sua missão. Cego, devido à luz, seus companheiros o guiaram até a Cidade. Lá, recebe seu batismo e a missão de propagar a mensagem de Deus. Por muito tempo ele ainda temeu represálias de todos por seu passado. Retratados, estão o caos e a confusão do momento em que Paulo recebe a luz. Tanto na imagem acima, quanto no quadro abaixo, o santo é centrado no lado inferior do quadro, com o significado da insignificância do homem perante a divindade.

A Crucifixão de São Pedro
Pedro foi um dos mais companheiros, mas também um dos que mais negou Jesus. Sempre esteve ao lado dele, mas na ocasião da morte de cruz, negou que conhecia Jesus, por três vezes. Mas Jesus sempre soube que tudo aconteceu, pois estava assim escrito. Até que um dia disse ao apóstolo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra [Pedro significa pedra. grego] edificarei minha igreja”. Após o fato da negação e após o Cristo ter ressuscitado, se sentindo traidor, Pedro foi se entregar em Roma, para ser crucificado. Mesmo sendo nomeado o primeiro bispo da igreja católica – o Papa, naquela época, Pedro não se sentiu compensado e quis ser crucificado, mas ao contrário, de cabeça para baixo, de pernas para o ar, pois não se considerava digno de morrer da mesma forma que Jesus. E assim se fez.
Aparição em Emaús
Estavam três discípulos a viajar para um povoado chamado Emaús. No cainho discutiam sobre ser o terceiro dia que Jesus havia morrido e nada dele aparecer, como previa as escrituras. Aí Jesus apareceu entre eles, mas estes estavam distraídos por demais, nem notando que ali era Jesus. Então assim, os homens convidaram este “estranho” para com eles ficar, pois se fazia tarde. Eles foram, cearam, e Jesus partiu o pão recitando a benção. Neste momento os olhos se abrem à verdade e Jesus desaparece. No quadro, a imagem da discussão, os apóstolos (além do anfitrião da casa), com gestos naturais, que seriam mais cerimoniosos se soubessem que aquele homem sereno que defendia Jesus era o próprio.


Só acredito vendo - A incredulidade de São Tomé
Assim, foram até outros apóstolos e amigos que também já discutiam que Jesus havia aparecido a Pedro. A discussão era muita e o tumulto também. Nisso, Jesus aparece a todos, sopra-os em saudação. Paralisados todos ficam a olhar. Jesus mostra a mão e o lado ferido pela lança. Tomé, um dos presentes, disse de imediato “Se eu não tocar na tua mão, se eu não puser os dedos na ferida e no lado, não acreditarei”. Jesus o convida e este comprova que ali é um homem de carne. Jesus diz “acreditaste Tomé, porque me viste. Felizes os é responsável pelo clima de apreensão do momento descrito na bíblia. Eis aí o real sentido do "Eu só acredito vendo".

O sacrifício de Isaac
Abraão recebeu uma mensagem de Deus. Que por ele provasse seu amor, subindo ao monte e sacrificando seu único filho Isaac. O pai foi, sem temer.No momento em que ia descer a faca para degolar o filho, um anjo segurou a mão e deteve o ato. Deus disse que não poderia haver prova maior do que a dada por Abraão e que estava, assim livre do sacrifício. Impressionante.



*Michelangelo Merisi da Caravaggio nasceu em 29 de setembro de 1571 e viveu até 18 de julho de 1610.

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quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O peso do não poder ser

Já se foram 10 anos desde sua morte (31/08/1997) e princesa Diana de Gales ainda desperta alguns rumores...
Seja pelo "modelo de perfeição" ou simplesmente por esconder muita coisa por trás do "cargo" de princesa de uma nação. Esconderijo tal, que deveria abrigar ela mesma, diante de uma lista infidável de protocolos e regras de postura a serem seguidos. Pobre atriz e seu script.....
Pois bem, Tina Brown, escritora inglesa, após acompanhar desde criança a trajetória da princesa em seu reinado, resolveu publicar, agora, 10 anos após sua morte, um livro de "Crônicas de Diana" (The Diana Chronicles).
Muitos comentam, a favor ou contra, o que ali é relatado. Ali, aparece uma Diana infeliz com casamento e retribuindo as traições que seu marido, príncipe Charles, lhe presenteava em casamento.
Não defendo a traição, mas não fico ruborizado por saber que aquela mulher-Diana, que todos tinham como a "perfeita" entre as mulheres, tentava sim, ter uma vida normal, tinha sim seus próprios desejos, era sim, infeliz em seu casamento e etc...
O que muita gente não pára pra pensar é que apesar de ser loira, alta, princesa, desejada, cobiçada, fotografada, perseguida, cobrada, perseguida de novo, enfim, apesar desse terror, assumido às suas costas a partir do sim em altar ao príncipe, apesar desse terror, ela tentava viver o que queria, amar ou simplesmente sair com quem queria...vida dupla, tripla, consequência de quem vivia de aparências....
Chico Buarque fala sobre ser mulher, submissa a seu homem e representar esse papel social - ter um dono. Em "Mulheres de Atenas" Chico descreve o que certas mulheres passam e o que devem suportar e superar em nome da sua imagem a zelar.
A música tem um tom de sofrimento, nostalgia. O começa um tanto quanto imponente, e o arranjo cai, de um jeito a acentuar a submissão feminina...

Mulheres de Atenas
Chico Buarque
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
[...]
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
[...]
:-]

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

É portuguesa!

Gosto de música portuguesa!
Gosto do sotaque único, que, mesmo tendo o idioma parecido com o nosso brasileiro, possui uma forma cantada de se pronunciar. Bonita. Tocante.

(clique nos nomes da música com o direito do mouse "abrir em uma nova janela")
Madredeus é daqueles grupos indispensáveis para quem gosta de um bom instrumental, letra bem elaborada e conjunto que prima pela perfeição. Teresa Salgueiro é a voz à frente do conjunto. Uma soprano que eu sempre achei "triste", passa um lado saudosista com lembranças de um Poturgal belo e boêmio.

Em uma canção de arrepiar, O Pastor, Teresa e super companhia trazem um lamento de uma época, que como todas, não voltam mais. Mais uma vez o sotaque, a bravura e a melancolia rondam pelos versos:

Ai que ningum volta
Ao que j deixou
Ningum larga a grande roda
Ningum sabe onde que andou

Ai que ningum lembra
Nem o que sonhou
E aquele menino canta
A cantiga do pastor

Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Acordar que eu no queria

Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Acordar que eu no queria

Dulce Pontes é outra das minhas referências. Seu fado, sua voz vibrante e as letras por ela cantadas.
Quando assisti Cinema Paradiso ouvi a música-tema da obra, que falava do sonho mágico proporcionado pela tela gigante. Dulce Pontes contava uma história com direito a "Era uma vez" e tudo! Cinema Paradiso é versão do original de Josh Groban. Envolvente, com um lirismo na interpretação, a impressão que se tem é mesmo de uma pessoa convidando para contar uma história que se seguiria ali. Um poema que seduz e traduz o espírito do filme. Inequecível:



Era uma vez
Um rasgo de magia
Dança de sombra e de luz
De sonho e fantasia
Num ritual que me seduz
Cinema que me dás tanta alegria

Deixa a música
Crescer nesta cadência
Na tela do meu coração

Voltar a ser criança
E assim esquecer a solidão
Os olhos a brilhar
Numa sala escura

Voa a 24 imagens por segundo
Meu comovido coração
Aprendeu a voar
Neste Cinema Paradiso
Que eu trago no olhar
E também no sorriso

Em outro álbum, Dulce Pontes intepreta Canção do mar. Conhecida por ser abertura tema da novela "As pupilas do senhor reitor", possui uma leveza e um ritmo imponente no início, com a introdução dos violinos:
Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

É portuguesa, com certeza!
:-]

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Uma pitada de Olavo


Definitivamente Olavo Bilac é meu poeta preferido! E nem sou muito conhecedor de poesias e os melhores autores do gênero...
Adoro lê-lo. Sua delicadeza com as palavras, aliadas à extrema simplicidade de seus significados, vêm por desenrolar aquele complicado rolo de linhas entrelaçadas – os sentimentos, tão difíceis de serem exprimidos....
Não tem outro! Coisa de fã.

Deparei me com esse texto num concerto de uma orquestra com o tema pascal, devido à época da Semana-Santa, guardada pelos católicos. Quando ouvi, me impressionei. Sei lá, coisas que simplesmente ficam na cabeça. Ele vem de um livro psicografado por Chico Xavier, que deu autoria a Bilac.

A CRUCIFICAÇÃO
Olavo Bilac (Rio de Janeiro,16/12/1865 – 28/12/1918)

Fita o Mestre, da cruz, a multidão fremente,
A negra multidão de seres que ainda ama.
Sobre tudo se estende o raio dessa chama,
Que lhe mana da luz do olhar clarividente.
Gritos e altercações! Jesus, amargamente,
Contempla a vastidão celeste que o reclama;
Sob os gládios da dor aspérrima, derrama
As lágrimas de fel do pranto mais ardente.
Soluça no silêncio. Alma doce e submissa,
E em vez de suplicar a Deus para a injustiça
O fogo destruidor em tormentos que arrasem,
Lança os marcos da luz na noite primitiva,
E clama aos Céus em prece compassiva:
“— Perdoai-lhes, meu Pai, não sabem o que fazem!...”

terça-feira, 24 de julho de 2007

Eu, qualquer um

Eu costumo me admirar com a facilidade com que as pessoas conseguem se abrir para “qualquer um” que encontram pelo caminho. Uma das situações que mais acontecem é de parar uma senhora e começar a contar sua vida com uma facilidade absurda. Eu digo absurda por que em meu caso dificilmente eu faria algo do tipo.

Uma menina à frente atendeu o celular. Ligação de sua mãe, querendo saber um relatório de informações do tipo “onde você está, com quem está, vai demorar a chegar...”, ouvi só as repostas da menina “to no busão, mã”, “Sozinha, né!??!”, “Já tô indo, manhê” e por ae foi. Nisso, uma senhora, que quando eu sentei estava prostrada diante do vidro embaçado pela chuva da janela do ônibus (tanto que nem ouviu ou respondeu ao meu “com licença”, ao sentar ao seu lado), nisso, ela vira para mim e diz “Já fiz muito isso...”.
Eu respondi com um descomprometido “Hummm” e ela continua... “Sabe, sei bem como é. Tenho duas criaturas dessas em casa, quer dizer, eles dormiram essa noite na casa dos outros – o que eu nunca aprovei”. Essa senhora começou a descrever fatos que ocorrem com ela desde que seus filhos atingiram a “idade de risco” (segundo ela), quando passaram dos 14 anos. Ela disse dos diversos episódios, que hoje em dia nem a abalam mais. “Hoje o meu mais velho de 15 anos transa com uma menina e quando não quer, passa para seu irmão de 14”.
Na escola, a polícia já foi chamada diversas vezes para retirar o menino da sala, por querer desacatar a professora e a diretora a todo momento.
Em casa a mãe já viu seus dois meninos juntos com adultos de até 30 anos, casados, que bebiam e fumavam todo tipo de drogas...“Nesse dia cai no chão e chorei...” “Outro dia, entrei em casa e uma menina saiu pela janela...”, relembra a mãe que faz faxina no município vizinho (Santos) por R$25, voltando somente à noite.
Muitos a dizem para desistir dessa vida, outros para deixar os meninos em um reformatório, mas “só eu sei o que eu passo com meus FILHOS...não é fácil fechar os olhos e deixar para trás”. Durante o percurso ouvi muitas histórias que dariam para preencher diversos capítulos de um seriado ou alguma novela da vida real.
Ela olhou para mim e disse: “Nossa! Você tem a idade da minha filha, e é difícil ver alguém dessa idade ouvindo uma ‘velha’ com seus problemas”

Ao final, o que me surpreendeu. Ela, mulher experiente e forte por causa do tempo e das circunstâncias, vira para mim e pergunta: “Você acha que as coisas podem melhorar para mim?”.
Confesso que nessa hora eu realmente fiquei sem reação. Mas deu tempo, antes de descer do ônibus, de dizer a ela que isso acontece em todas as esquinas e que muitas mães e pais passam por coisas até piores (muitos nem têm emprego, nem casa).
Pedi ainda que tivesse forças e que não desacreditasse, pois é possível mudar algumas coisas a partir do momento em que temos uma visão mais positiva das coisas.
Mostrei que a parte dela como mãe já foi feita, resta esperar que esses meninos aprendam o quanto antes a forma correta de seguir na vida. Ela, assim como a maioria das pessoas que abrem suas vidas às pessoas, disse que agradecia imensamente por ouvir e por não a ter criticado por não poder mudar seus filhos....

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Insônia

Olá!
Sabe, parece que o inverno enfim chegou aqui!
Esse texto escrevi na noite do último fim de semana...
Com essa mudança de tempo, com o frio chegando, aconteceu de uma das noites ter uma ventania quase com cara de "noroeste".
O ruído era tanto que batia as portas de alguns apartamentos desavisados, janelas e grades pareciam musicar algo meio que deseperador.....não sei....
Não consegui dormir no começo....não me contive...o som era intrigante por demais, e lá fui eu rabiscar no papel algumas sensações disso tudo...

DICA: clique com o direito do mouse nesta música:Calling you, trilha sonora de Bagdad Café. A voz de Jevetta Steele é muito envolvente e perturbadora. Letra perfeita, melodia SIMPLESmente formidável. Combinou perfeitamente com meu texto:


Ao longe uma porta bate.
Com o sopro inclemente do vento,
Que traz o inverno à porta.
Ela, bate uma, bate mais fraca, longe
Abre:
E bate de novo.
E assim será,
Até que alguém por ela passe,
E atravesse sua existência.
E a feche...
Até que alguém interrompa,
A barreira do vento contra seu estado de porta.

A força dos pensamentos.
A nostalgia da noite, a falta de sono.
Os grãos de areia e de restos que,
De encontro às grades metálicas,
Geram sons agudos, em tom de encantamento.
Como pedregulhos ou sinos minúsculos caindo em terra.

O vento mais forte,
Agora,
Entristece,
Canta alto,
Corta fundo,
Ressoa na janela,
E fala alto aqui dentro...

A porta, só então se fecha.
Os olhos cerram.
A tormenta.
É brisa,
Embala.
A porta,
As janelas,
Os olhos...

Fechados...


é isso...
:-]

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Ser brasileiro

Revirando uns arquivos aqui achei este texto que fiz para a faculdade...todos tinham de criar algo a partir da idéia "Ser brasileiro é"...achei engraçado na época os trocadilhos que surgiam na minha cabeça e logo escrevi isso:

Ser brasileiro é nascer num berço esplêndido, ter uma mãe gentil e ver seus irmãos acabarem com a casa;
Ser brasileiro é acordar em tempos nublados, sem aquele sol, que outrora brilhara em raios fúlgidos;
Ser brasileiro é perceber que não se pode sonhar com os raios de amor e de esperança que à terra não descem mais;
Ser brasileiro é ver os tristonhos campos cinza tendo mais queimadas, poluição e falta de cuidado;
Ser brasileiro é ter de avisar ao verde-louro que a paz do futuro não veio ainda, ou já passou despercebida e que as glórias a se orgulhar, só se for as do passado mesmo;
Ser brasileiro é sentir que em muitos lugares não existe justiça, tendo o filho fugir dessa luta desigual e temer até a quem o adora;
Ser brasileiro é tentar aumentar o volume do som da memória para poder ouvir pelo menos um ruído daquele grito, que não passa mais do que uma data 7 festiva no calendário.

Apesar de tudo isso, é difícil trocar esse imenso país por outro qualquer...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Vozes da rua

Esses dias, há duas semanas talvez, estava eu em um ponto de ônibus. Atrasado, sabia que era melhor não dizer nada, ao invés de culpar alguém, senão eu mesmo, por meu atraso. Costumo ser meio ligado demais nas coisas, uma questão de mania, tara. Às vezes me pego viajando, divagando sobre a vida alheia: vejo um rosto desconhecido e lá vai minha mente, costurando uma história, por mim suposta, tentando ilustrar aqueles rosto que acabo de ver. Gosto de observá-los, tentar saber como é sua relação com o seus (se os tem ou não) e por aí vai. Gosto sempre de pensar que cada um, isso mesmo, cada um, transeunte urbano, possuí uma história para contar.
A questão é que vi um homem desses que vive na rua e acaba se tornando uma personagem daquela cidade. Estava eu no ponto e vejo esse ator da realidade em cena. Contava que acabara de vir do carnaval de veneza. Segundo ele, "lá é bem mais encantador que aqui". Fiquei impressionado!Por pouco não o abordei para saber como ele havia chegado a tal afirmação. Se ele já esteve lá. Se era mais um doido pobre homem sem perspectiva de vida. E se sim, se realmente esteve em Veneza, porque estava na rua agora.
Mas não. Me contive. Pensei comigo mesmo que a magia dessas histórias, assim como os contos de Marcos Rey ou Charlies Dickens, são legais e o são exatamente por esse mistério, magia que envolve a escrita, afinal nem tudo precisa de uma razão para ser - simplesmente são.
Peguei enfim, meu ônibus, que me levaria dali a uma hora para Santos. Me pus a escrever, sobre essa questão dos que falam e dos que ouvem (quando ouvem), tomado por aquela cena lírica e real de um vivente da rua...

Gente
Tem estórias para contar
Tanta que ninguém quer ouvir
Só falar
Tanta estória perdida
Não achada
Que no tempo da imaginação
Se faz realizada

História que nem eu vivi
Instrumentos fora de uso
Vida em desuso
Andarilhos
Personagens
Sozinhos, vivem e fazem estórias
Mas ninguém ouve
Ele fala
A todos
Sem ninguém

Um, se diz príncipe
Todos riem
Outro, adormece no carnaval de Veneza
Ninguém ouve
Ri
Zomba
Perde de vista
Perde a vida que se apresenta
O conto
Perde
O mais vivo conto
Perde
A fantasia perde
De viver

O homem
sem nome
Cansa
Não
Relata
Agora, louco
Ninguém nunca saberá
Nem ouve
Vive?
Fala
Dele
Sua vida

Ninguém ouve

terça-feira, 29 de maio de 2007

Superação nem sempre reconhecida

De 25 a 31 deste mês, Praia Grande foi sede dos Jogos Abertos Brasileiros, uma competição de importância que reúne atletas de ponta e novos nomes do esporte que surgem no país.
Essas fotos são de autoria de Fred Casagrande, das competições de natação ocorridas em Santos.






Fui escalado entre várias coberturas para acompanhar as disputas de atletismo. Faço estágio de jornalismo na Assessoria de Imprensa na Prefeitura de Praia Grande, e lançamos notícias diariamente em nosso site. E nestes esportes, estivemos com um QG na quadra perto das competições, informando tudo que acontecia nesses dias. Então, lá fui eu!
Leia minha matéria do primeiro dia de competições de atletismo, clique aqui
Para a matéria do segundo e último dia de competições, clique aqui

Um esporte de tradição, o atletismo é considerada uma das provas mais humanas, pois desenvolve os movimentos básicos do homem (pular, saltar, correr).
Estive sábado (26) e domingo (27), em São Caetano, conhecendo as modalidades e os atletas que passavam por lá. Ao som do super clássico Chariots of fire, fui me deparando com muitas personagens importantes para o Brasil, umas levavam ouro, prata e bronze; outras nem ao pódio subiam, mas estavam lá também, disputando e representando muito bem suas cidades e estados.
O 1º lugar geral nas competições foi para São Paulo, destaques para Elisângela Adriano, arremesso do peso e lançamento do disco; Alessandra Rezende, no lançamento do dardo e Andréia Pereira, também do arremesso do peso.
Esses destaques são dados não só por causa do ouro ou prata conquistados nos Jogos, mas sim por também estarem classificados para o Pan-Americano, em Julho, no Rio de Janeiro. Uma delas já garantiu vaga para as Olimpíadas de 2008, na China!
Ou seja, são super atletas que irão representar o Brasil em competição de grande nível e que, infelizmente, muita gente desconhece.
Competições como essas, modalidades como essas, atletas como essas e esses, são quase sempre deixados de lado, por falta de patrocínio e de apoio. E normalmente os esportes mais bem patrocinados são o que sempre estão na mídia, como o futebol.
Porque o o Brasil não pode ser também o país do esporte, como geral? E não só do futebol?

Fico feliz com a atual divulgação do volei brasileiro, principalmente o masculino que vem ganhando atenção de todos, assim como o futsal - todos podendo mostrar seus talentos...
Se mesmo com dificuldades esses atletas chegam a competições como um Pan ou Olimpíadas, já imaginaram se tivessem investimento desde o começo, quando muitos têm de abandonar o esporte para trabalhar e sustentar a casa?!
Peço que divulguem sempre essa idéia, a de que o esporte aliad a educação pode sim, dar novos horizontes a nosso Brasil. Como esses, existem muitos espalhados pelo país. Não é questão de mostrar atleta X ou Y. É mostrar que o esporte merece destaque, pois assim, seus praticantes serão reconhecidos, além de seu empenho.
Aqui ficam algumas imagens do que já aconteceu até agora, até o último dia serão muitas provas de raça e imagens belas como essas! Superação, força, humildade, competitividade e grandes sonhos: esses atletas têm de sobra.
Quem sabe um dia esses guerreiros de tempos modernos tenham o mesmo respeito que os competidores de Olímpia, na Grécia. Tempo em que esporte era sinônimo de honra.
Esta é apenas uma das modalidades que estão sendo disputadas nesta 16ª edição dos Jogos Abertos Brasileiros.

É isso...
eLi
:-]

A seguir, imagens, por Edmilson Lelo


Prova de 100 metros sobre barreiras. Média de 14 segundos para chegar ao final
Salto em altura. A envergadura e tamanho do atleta são importantes para boas marcas
O martelo lançado é uma espécie de esfera metálica amarrada a uma haste de arame
É possível ver a alça do martelo na mão desse lançador, antes de jogar
"Com esse resultado, quem não melhora?", brincou a atleta que sentiu fortes caimbras, mas levantou-se rapidamente quando ouviu o anúncio de seu ouro
Arremesso do peso, uma prova que é especialidade de Elisângela Adriano, de SP
Provas rasas. Corridas curtas ou mais longas que exigem muita resistência dos atletas
Alessandra Rezende. Muito linda e simpática. Destaque da equipe de São Paulo, já tem vaga garantida para o Pan-Rio e Olimpíadas da China (2008), que coisa, não!?!?!

Quick, atleta de salto triplo do Paraná. Ouro em uma das provas mais tradicionais em atletismo
Eli, como é conhecida Elisângela Maria Adriano e Eli (eu). Detalhe que vira e mexe gitavam o nome dela "Vai Eliii" "Garra Eliiii"...então pode-se imaginar as confusões que eu fazia. Bem, essa Eli é destaque (ouro) em arremesso do peso e lançamento do disco. Vaga garantida no Pan-Rio. outra menina simpática e sem frescuras, aliás uma característica desse esporte. Me impressionou a simplicidade de todos

domingo, 20 de maio de 2007

Diferentes modos de dizer um só

Olá!
Eis me aqui...tinha prometido a mim mesmo atualizar aqui semanalmente....ainda chego lá!


Esses dias, com minhas manias de rememorar coisas do passado (ou desenterrar do baú como diria a maioria), me peguei a ouvir um disco de Maria Bethânia, um long play de um amigo meu, que "gentilmente me deu de presente" quando a vitrola dele quebrou (para minha alegria). Ouvindo, pulei imediatamente a agulha para a faixa "Teresinha" de Chico Buarque, música sensibilíssima com uma pitada sutil de humor - dada a simplicidade e ingenuidade da "Teresinha" em falar de seus sentimentos e desejos.
Sem falar na beleza simples do arranjo da gravação, onde a introdução soa como uma verdadeira nuvem de lembranças, efeito causado pela "dança" dos violinos em destaque como se estes dessem voltas em um salão parando ao toque do piano, retomando cambaleante e a tempo. Esse efeito me faz sentir uma espécie de nuvens, daquelas que surgem toda vez que alguém pede para que se conte algo do passado, quando se fecha os olhos e diz "Foi bem assim...", e então, Teresinha começa a recordar e reviver.
Pois bem, ao ouvir essa canção, daquele novato na MPB (um tal de Chico Buarque), canção que na minha opinião é uma das mais bonitas que Bethânia já gravou, ao ouvi-la, fui repentinamente remetido a um texto que me acompanha desde os tempos de escola. O texto é "Caminhos com Maiakóvski", inspirado em um poeta russo - Vladímir Maiakóvski, conhecido no movimento futurista na Rússia no século XX. Eis aí as duas histórias:


Teresinha
(Chico Buarque)


O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e, assustada, eu disse não

O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e, assustada, eu disse não


O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama, mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração

_____________________________
Caminhos com Maiakóvski

Na primeira noite eles se aproximam,
Colhem uma flor de nosso jardim
E não dizemos nada.


Na segunda noite,
Já não se escondem:
Pisam nas flores, matam nosso cão
E não dizemos nada.

Até que um dia,
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.


Acho o efeito desse último texto surreal (costumo usar essa palavra para me referir a "amor a primeira vista" com frases, músicas, citações, ou coisas do tipo...Sabe quando você ouve algo pela primeira vez e sai dali sem conseguir esquecer?), isso mesmo, surreal, tanto que carrego comigo até hoje. E quando ouvi o "assustada eu disse não" da segunda parte da música de Chico, me veio logo esse texto falando sobre o medo de dizer não, daqueles que você se arrepende depois. A diferença é que para Chico a moça teve uma reação a tempo, na terceira parte música, mas para Maiakóvski a questão foi contrária. O "assaltante" (noturno) rouba tudo e também a coragem. Não sei se é realmente possível essa ligação, relação ou coisa parecida, dos dois textos, mas gostei do resultado.
Senti o mesmo quando vi "Ballet Stagium", grupo de dança com inovações muito interessantes, interpretar Roda Viva, também de Chico Buarque (que coisa! Esse menino ainda vai ficar famoso). Na coreografia da chamada "dança contemporânea", os bailarinos realizavam as evoluções de acordo com o efeito do refrão "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião...". E a cada estrofe eles andavam para trás enquanto um texto era lido de trás pra frente, em cima da canção. Para o público, que já ouviu falar de "Roda Viva" em algum momento, restava adivinhar que texto era aquele lido ao contrário. Interessante, o mistério viria à tona no desfecho veloz da canção, quando as rodas "desembestam" sem direção.
E o texto lido era "José" de Carlos Drummond, tão conhecido como a letra de Roda Viva. Revelado o mistério, muitos ficaram surpresos com a semelhança dos dois textos e a forma com que ele foi adicionado à música. Mostrando a situação de um José após o efeito opressivo de uma roda que leva a saudade prá lá........
Vejam os dois textos:

Roda Viva - fragmento
(Chico Buarque)

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá

[...]
_____________________________
José - fragmento
(Carlos Drummond de Andrade)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

[...]

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

[...]

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse a valsa vienense,
se você dormisse, se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

[...]

Uffa....acho que para semanas sem escrever, chega, né?! Não sei se realmente é possível ver uma relação entre esses textos todos...mas acho que a palavra opressão cabe a todos eles. Me perdoem o excesso de aspas e parênteses, às vezes acho que divago demais.....

eLi
:-]

sábado, 12 de maio de 2007

Virada Cultural


Pois é...a virada cultural revelou um centro de São Paulo muito diferente do pouco que eu conhecia.
Imaginar aquelas praças e avenidas cheias às 2, 3 da madrugada é bem diferente!
Palcos espalhados por todos os lados, pessoas de muitas tribos, todas ali!
Como disse a Bah, foi o mais próximo que poderíamos chegar de Woodstock!
Nossa...era surreal olhar aqueles gramados cheios de pessoas deitadas, em roda ou mesmo solitárias recostadas à arvore, ou realizado seu próprio espetáculo de dança ali, na grama, quando não se podia assistir à apresentação devido à lotação em frente ao palcos.
Nomes como Chico Buarque, Vinicius de Moraes entre outros foram lembrados em encontros poéticos ou eventos de dança.
Foi a oportunidade de ver shows e novas visões de arte como se olhasse do quintal de casa, bem ali na rua ou na praça!
Destaque para o Ballet Stagium, bailarinos expressivos, sem falar que o espetáculo era muito bom também! Músicas de Chico Buarque vivas ali nas coreografias.
Foi isso, Bartira, Cecília, Daigous e eu, dando uma de mochileiros em pleno centros de sampa!
eLi
:-]

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Com mais de 20
















"Ontem de manhã, quando acordei, olhei minha vida e me espantei:
Eu tenho mais de 20 anos..."
20 anos blue
(Suely Costa/ Victor Martins na voz de Elis Regina)

Bem...essa é mais uma daquelas coisas que a gente começa e termina,ou às vezes nem termina...
Não sei para onde nem até quando, muito menos para quem
Sei lá...pode ser que antes de eu terminar esse primeiro post já tenha desistido e deletado tudo (não foi dessa vez ehehhe)

Bem...neste primeiro não quero um discurso...sei lá.....é um começo....e como todo começo...tá começando...(ótima hein?)
É isso...
eLi