terça-feira, 24 de julho de 2007

Eu, qualquer um

Eu costumo me admirar com a facilidade com que as pessoas conseguem se abrir para “qualquer um” que encontram pelo caminho. Uma das situações que mais acontecem é de parar uma senhora e começar a contar sua vida com uma facilidade absurda. Eu digo absurda por que em meu caso dificilmente eu faria algo do tipo.

Uma menina à frente atendeu o celular. Ligação de sua mãe, querendo saber um relatório de informações do tipo “onde você está, com quem está, vai demorar a chegar...”, ouvi só as repostas da menina “to no busão, mã”, “Sozinha, né!??!”, “Já tô indo, manhê” e por ae foi. Nisso, uma senhora, que quando eu sentei estava prostrada diante do vidro embaçado pela chuva da janela do ônibus (tanto que nem ouviu ou respondeu ao meu “com licença”, ao sentar ao seu lado), nisso, ela vira para mim e diz “Já fiz muito isso...”.
Eu respondi com um descomprometido “Hummm” e ela continua... “Sabe, sei bem como é. Tenho duas criaturas dessas em casa, quer dizer, eles dormiram essa noite na casa dos outros – o que eu nunca aprovei”. Essa senhora começou a descrever fatos que ocorrem com ela desde que seus filhos atingiram a “idade de risco” (segundo ela), quando passaram dos 14 anos. Ela disse dos diversos episódios, que hoje em dia nem a abalam mais. “Hoje o meu mais velho de 15 anos transa com uma menina e quando não quer, passa para seu irmão de 14”.
Na escola, a polícia já foi chamada diversas vezes para retirar o menino da sala, por querer desacatar a professora e a diretora a todo momento.
Em casa a mãe já viu seus dois meninos juntos com adultos de até 30 anos, casados, que bebiam e fumavam todo tipo de drogas...“Nesse dia cai no chão e chorei...” “Outro dia, entrei em casa e uma menina saiu pela janela...”, relembra a mãe que faz faxina no município vizinho (Santos) por R$25, voltando somente à noite.
Muitos a dizem para desistir dessa vida, outros para deixar os meninos em um reformatório, mas “só eu sei o que eu passo com meus FILHOS...não é fácil fechar os olhos e deixar para trás”. Durante o percurso ouvi muitas histórias que dariam para preencher diversos capítulos de um seriado ou alguma novela da vida real.
Ela olhou para mim e disse: “Nossa! Você tem a idade da minha filha, e é difícil ver alguém dessa idade ouvindo uma ‘velha’ com seus problemas”

Ao final, o que me surpreendeu. Ela, mulher experiente e forte por causa do tempo e das circunstâncias, vira para mim e pergunta: “Você acha que as coisas podem melhorar para mim?”.
Confesso que nessa hora eu realmente fiquei sem reação. Mas deu tempo, antes de descer do ônibus, de dizer a ela que isso acontece em todas as esquinas e que muitas mães e pais passam por coisas até piores (muitos nem têm emprego, nem casa).
Pedi ainda que tivesse forças e que não desacreditasse, pois é possível mudar algumas coisas a partir do momento em que temos uma visão mais positiva das coisas.
Mostrei que a parte dela como mãe já foi feita, resta esperar que esses meninos aprendam o quanto antes a forma correta de seguir na vida. Ela, assim como a maioria das pessoas que abrem suas vidas às pessoas, disse que agradecia imensamente por ouvir e por não a ter criticado por não poder mudar seus filhos....

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Insônia

Olá!
Sabe, parece que o inverno enfim chegou aqui!
Esse texto escrevi na noite do último fim de semana...
Com essa mudança de tempo, com o frio chegando, aconteceu de uma das noites ter uma ventania quase com cara de "noroeste".
O ruído era tanto que batia as portas de alguns apartamentos desavisados, janelas e grades pareciam musicar algo meio que deseperador.....não sei....
Não consegui dormir no começo....não me contive...o som era intrigante por demais, e lá fui eu rabiscar no papel algumas sensações disso tudo...

DICA: clique com o direito do mouse nesta música:Calling you, trilha sonora de Bagdad Café. A voz de Jevetta Steele é muito envolvente e perturbadora. Letra perfeita, melodia SIMPLESmente formidável. Combinou perfeitamente com meu texto:


Ao longe uma porta bate.
Com o sopro inclemente do vento,
Que traz o inverno à porta.
Ela, bate uma, bate mais fraca, longe
Abre:
E bate de novo.
E assim será,
Até que alguém por ela passe,
E atravesse sua existência.
E a feche...
Até que alguém interrompa,
A barreira do vento contra seu estado de porta.

A força dos pensamentos.
A nostalgia da noite, a falta de sono.
Os grãos de areia e de restos que,
De encontro às grades metálicas,
Geram sons agudos, em tom de encantamento.
Como pedregulhos ou sinos minúsculos caindo em terra.

O vento mais forte,
Agora,
Entristece,
Canta alto,
Corta fundo,
Ressoa na janela,
E fala alto aqui dentro...

A porta, só então se fecha.
Os olhos cerram.
A tormenta.
É brisa,
Embala.
A porta,
As janelas,
Os olhos...

Fechados...


é isso...
:-]