quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O peso do não poder ser

Já se foram 10 anos desde sua morte (31/08/1997) e princesa Diana de Gales ainda desperta alguns rumores...
Seja pelo "modelo de perfeição" ou simplesmente por esconder muita coisa por trás do "cargo" de princesa de uma nação. Esconderijo tal, que deveria abrigar ela mesma, diante de uma lista infidável de protocolos e regras de postura a serem seguidos. Pobre atriz e seu script.....
Pois bem, Tina Brown, escritora inglesa, após acompanhar desde criança a trajetória da princesa em seu reinado, resolveu publicar, agora, 10 anos após sua morte, um livro de "Crônicas de Diana" (The Diana Chronicles).
Muitos comentam, a favor ou contra, o que ali é relatado. Ali, aparece uma Diana infeliz com casamento e retribuindo as traições que seu marido, príncipe Charles, lhe presenteava em casamento.
Não defendo a traição, mas não fico ruborizado por saber que aquela mulher-Diana, que todos tinham como a "perfeita" entre as mulheres, tentava sim, ter uma vida normal, tinha sim seus próprios desejos, era sim, infeliz em seu casamento e etc...
O que muita gente não pára pra pensar é que apesar de ser loira, alta, princesa, desejada, cobiçada, fotografada, perseguida, cobrada, perseguida de novo, enfim, apesar desse terror, assumido às suas costas a partir do sim em altar ao príncipe, apesar desse terror, ela tentava viver o que queria, amar ou simplesmente sair com quem queria...vida dupla, tripla, consequência de quem vivia de aparências....
Chico Buarque fala sobre ser mulher, submissa a seu homem e representar esse papel social - ter um dono. Em "Mulheres de Atenas" Chico descreve o que certas mulheres passam e o que devem suportar e superar em nome da sua imagem a zelar.
A música tem um tom de sofrimento, nostalgia. O começa um tanto quanto imponente, e o arranjo cai, de um jeito a acentuar a submissão feminina...

Mulheres de Atenas
Chico Buarque
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
[...]
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
[...]
:-]

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

É portuguesa!

Gosto de música portuguesa!
Gosto do sotaque único, que, mesmo tendo o idioma parecido com o nosso brasileiro, possui uma forma cantada de se pronunciar. Bonita. Tocante.

(clique nos nomes da música com o direito do mouse "abrir em uma nova janela")
Madredeus é daqueles grupos indispensáveis para quem gosta de um bom instrumental, letra bem elaborada e conjunto que prima pela perfeição. Teresa Salgueiro é a voz à frente do conjunto. Uma soprano que eu sempre achei "triste", passa um lado saudosista com lembranças de um Poturgal belo e boêmio.

Em uma canção de arrepiar, O Pastor, Teresa e super companhia trazem um lamento de uma época, que como todas, não voltam mais. Mais uma vez o sotaque, a bravura e a melancolia rondam pelos versos:

Ai que ningum volta
Ao que j deixou
Ningum larga a grande roda
Ningum sabe onde que andou

Ai que ningum lembra
Nem o que sonhou
E aquele menino canta
A cantiga do pastor

Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Acordar que eu no queria

Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Acordar que eu no queria

Dulce Pontes é outra das minhas referências. Seu fado, sua voz vibrante e as letras por ela cantadas.
Quando assisti Cinema Paradiso ouvi a música-tema da obra, que falava do sonho mágico proporcionado pela tela gigante. Dulce Pontes contava uma história com direito a "Era uma vez" e tudo! Cinema Paradiso é versão do original de Josh Groban. Envolvente, com um lirismo na interpretação, a impressão que se tem é mesmo de uma pessoa convidando para contar uma história que se seguiria ali. Um poema que seduz e traduz o espírito do filme. Inequecível:



Era uma vez
Um rasgo de magia
Dança de sombra e de luz
De sonho e fantasia
Num ritual que me seduz
Cinema que me dás tanta alegria

Deixa a música
Crescer nesta cadência
Na tela do meu coração

Voltar a ser criança
E assim esquecer a solidão
Os olhos a brilhar
Numa sala escura

Voa a 24 imagens por segundo
Meu comovido coração
Aprendeu a voar
Neste Cinema Paradiso
Que eu trago no olhar
E também no sorriso

Em outro álbum, Dulce Pontes intepreta Canção do mar. Conhecida por ser abertura tema da novela "As pupilas do senhor reitor", possui uma leveza e um ritmo imponente no início, com a introdução dos violinos:
Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

É portuguesa, com certeza!
:-]

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Uma pitada de Olavo


Definitivamente Olavo Bilac é meu poeta preferido! E nem sou muito conhecedor de poesias e os melhores autores do gênero...
Adoro lê-lo. Sua delicadeza com as palavras, aliadas à extrema simplicidade de seus significados, vêm por desenrolar aquele complicado rolo de linhas entrelaçadas – os sentimentos, tão difíceis de serem exprimidos....
Não tem outro! Coisa de fã.

Deparei me com esse texto num concerto de uma orquestra com o tema pascal, devido à época da Semana-Santa, guardada pelos católicos. Quando ouvi, me impressionei. Sei lá, coisas que simplesmente ficam na cabeça. Ele vem de um livro psicografado por Chico Xavier, que deu autoria a Bilac.

A CRUCIFICAÇÃO
Olavo Bilac (Rio de Janeiro,16/12/1865 – 28/12/1918)

Fita o Mestre, da cruz, a multidão fremente,
A negra multidão de seres que ainda ama.
Sobre tudo se estende o raio dessa chama,
Que lhe mana da luz do olhar clarividente.
Gritos e altercações! Jesus, amargamente,
Contempla a vastidão celeste que o reclama;
Sob os gládios da dor aspérrima, derrama
As lágrimas de fel do pranto mais ardente.
Soluça no silêncio. Alma doce e submissa,
E em vez de suplicar a Deus para a injustiça
O fogo destruidor em tormentos que arrasem,
Lança os marcos da luz na noite primitiva,
E clama aos Céus em prece compassiva:
“— Perdoai-lhes, meu Pai, não sabem o que fazem!...”