quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Falsidade

A paz é fruto da justiça, assim defende a Campanha da Fraternidade 2009, que tem início no período da quaresma, logo após o carnaval, na quarta-feira de cinzas.
Sem justiça não há paz, pregam as igrejas católicas.
Sejam criadas as condições necessárias para que todos vivamos em segurança, na paz e na justiça que desejais, diz a oração da campanha.
Renovar a consciência da responsabilidade de todos, na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa (justiça e inclusão digital) e solidária, diz um dos artigos sobre objetivos da campanha.

Na Paraíba, um padre, que também é deputado federal, é suspenso das funções de sacerdócio, pois é contra a discriminação de homossexuais e defende o uso de preservativos. Após declarações sobre sua posição, que saíram em órgãos de imprensa, o arcebispo do estado não gostou da entrevista e suspendeu as funções do padre, que está proibido de celebrar missa, batizados e casamentos.
“Lamentavelmente, declarações sumárias e ambíguas a respeito do uso de preservativos, união de homossexuais são posições diametralmente contrárias à orientação oficial do Vaticano. Isso é intolerável”, diz a autoridade.

Ambíguas são essas campanhas, que deixam dúvidas no quesito fraternidade. Não é a primeira vez que falo sobre isso por aqui. E tampouco é a primeira vez que a instituição santa mundial divulga campanhas que falam bonito, abordam justiça, mas passam longe da prática, ficando tudo em palavras, que sequer saem dos parágrafos redigidos em nome da santidade.

Justiça falsa, um fracasso.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Vencer

“It’s not just about winning.”

Frase do personagem Harvey Milk, interpretado por Sean Penn, em “Milk, a voz da igualdade”, quando questionado sobre a possibilidade dele não ganhar a corrida em um cargo público nos Estados Unidos, por conta de sua opção sexual. Para ele, bastou defender sua causa e levá-la a ser conhecida. E assim foi feito.
Filme muito bom e que saiu com Oscar de melhor ator e melhor roteiro original. Prêmios merecidos.

“Não se trata apenas de ganhar”, também disse, ao ser entrevistado, um presidente de um bloco carnavalesco, que participou como estreante nos desfiles de carnaval da cidade do litoral paulista, Praia Grande (O Carnaval da Família de Praia Grande 2009). E fez bonito, muito bonito. Sem ser demagogo, mostrou a que veio: exaltar a cultura do carnaval de bairro, de galpão, de projetos entre crianças, jovens e terceira idade.

Rogério Mazio, o presidente orgulhoso do bloco Casa do Mestiço, levou para a avenida sua agremiação com simplicidade que impressionou a todos que viram seu desfile. Qualidade técnica, grandiosidade e enredo falando sobre miscigenação, muito bem amarrado e defendido. Como um moleque que sabe o talento que tem, chegou, malandro, e conquistou a todos.

É daqueles que, quando se presencia, se diz, sem exagero: “Que orgulho em ter personagens como esses neste mundo.” Foto: Richard Aldrin

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval

É carnaval, enfim!



"Amor de Carnaval", com Elis Regina e Jair Rodrigues, em épocas de "2 na Bossa"

Alfabetizado

É! Saiu o diploma!
Agora é assim, certificado, comprovado, a certeza de ser alfabetizado.
Enfim, jornalista.
Claro que em tempos diferentes (sobretudo daqueles pregados em aulas de “História do Jornalismo”), mas jornalista.
Não tão “brigador” por certas causas, que em dias de hoje já não há.


Uma profissão. Um lugar em que me sinto seguro, quase sempre.
Mais por dinheiro, por anseios de alguma estabilidade, quem sabe, na vida,
Do que por paixão pela verdade absoluta, pelo ser objetivo, apolítico, isentíssimo entre outras teorias,
Que como tais, são, quase sempre, teorias.

Enquanto isso, a classe briga pela não decisão da parte do Superior Tribunal Federal, que pode decretar a não necessidade de se ter diploma para ser jornalista.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Clássico irado

Vovó sempre disse que é preciso comportar-se quando chegava visita!
“E se você é a visita, deve se comportar ainda mais, pois está na casa dos outros!”
A fórmula era simples!

Visitantes corintianos no Estádio do Morumbi não souberam controlar-se. Brigas, ameaças e bombas de efeito moral, da Polícia, que só causou mais confusão.
Diretoria do Corinthians afirma que foi a bomba que quebrou o clima de calmaria existente durante toda a partida.
Mas, do lado de fora, era possível ver um paredão de homens que defendiam seu timão, anunciava em melodia: “A violência voltou!”.

Não se justifica, mas será que ninguém esperava uma reação ao forte esquema montado pelo São Paulo para receber os oponentes? Será que o corte de ingressos (somente 10% foram destinados aos visitantes) é mesmo a solução para o fim da violência dentro de campo? E fora das quatro linhas, a pancadaria pode rolar?
E há quem defenda ainda o corte no percentual de ingressos oferecidos, nesses casos, para 5%.
Será que resolve?

Folia

Carnaval...
Folia, samba e muita, muita camisinha!

Há quem se pergunte: “Mas só se faz sexo nessa época do ano?”.
Há, ainda, quem defenda a teoria de que grande parte dos nascimentos no Brasil se dá nos meses de novembro e dezembro. Isso porque esses filhos seriam frutos de irresponsabilidades praticadas em festas e folias de carnaval.

E dá-lhe camisinha nos foliões!

O Governo Federal atingiu recorde histórico de distribuição de preservativos masculinos em 2008. O número passou de 406 milhões de protetores emborrachados no Brasil. Em 2007 foram 122 milhões. O maior número até então era de 257 milhões, em 2003. Em 2009 a previsão é de mais 1,2 bilhão de camisinhas.
Estima-se que 255 mil brasileiros estejam infectados pelo vírus da Aids e ainda não sabem disso. Acredita-se que a testagem é feita de forma tardia em 40% dos casos, quando o paciente já está muito debilitado.

O que falta?
Camisinha? Medo? Informação?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Alegria

Essa adoro.
Para rir um pouco, na voz de Elis e na letra de Baden Powell e Paulo César Pinheiro.
Que batucada!!!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma lágrima na sala de visita

Elza Lemke Batalha é poetisa da minha cidade, Praia Grande. Muitos aqui já a viram em um de seus projetos, que visitava salas de aula, onde recitava poesias, ao som do violão de seu marido, Jares. Enquanto uma moda de viola era executada, aquela voz doce e por vezes até frágil, ecoava e declamava seus textos.
A conheci quando eu trabalhava com xerox e semanalmente aparecia aquela figura linda, do tipo que todos queriam ter como avó, para fazer cópias daqueles papéis, que depois eu descobriria tratar-se de suas poesias. Estava querendo montar um livro. Um sonho. E ele veio, em novembro de 2003. O nome dado foi “Uma lágrima na sala de visita”. Veio com muito esforço, com apoio de pessoas que a admiram.
Dona Elza (como sempre a chamo), começou a escrever suas poesias na maturidade, aos 70 anos. Passou a escrever quando conheceu seu grande amor (o primeiro marido a deixou viúva cedo). Em 2002, realizou outro sonho, casou-se na igreja com Seu Jares, seu “muso” inspirador. Estava linda, em plena beleza de seus 81 anos, os olhos ainda em vivíssimos azuis e um vestido lilás.
Hoje, por conta da idade e do sofrimento de sua vida (e não foram poucos), ela costuma se esquecer de muitos detalhes, mas meu nome ela sempre lembra. E a poesia, essa segue sempre rica e pulsante nela. Sinto saudades de Dona Elza e sei que ando lhe devendo uma visita (a última vez que fui à sua casa, em época de aniversário, ela não estava e deixei um vaso de flores à porta).

Segue aqui o poema que é título de seu livro e conta uma história cheia de beleza infantil, escrito já na maturidade.

Uma lágrima na sala de visita
Elza Lemke Batalha

Quando eu era menina,
que tempo saudoso!
Que amor gostoso!
havia em meu lar.
E eu feliz a desfrutar
aquele pequeno Paraíso,
tendo em meus lábios um sorriso.

Mas às vezes surgia a tempestade,
e o céu escurecia,
quando de meu pai, severas advertências
ouvia,
por alguma traquinagem de criança
inocente.
Por alguma trampolinagem de infante
Inconseqüente.

Nem tudo é doce como mel.
A vida às vezes é amarga como fel.
E quando uma lágrima
nas minhas faces rolava,
meu pai assim à minha mãe falava:
“Esta menina tem a lágrima na sala de visita.”

Elas eram pequetitas
como as contas de um rosário,
descendo pela face como gotas
cristalinas,
apontando já na minha infância
a sina do Calvário.

Então meu pai amado,
tendo sua zanga acalmada,
colocava-me no colo e me aconchegava.
Enfim minha alegria retornava.
“Não chores chores mais filhinha, meu tesouro.
Teu pai te ama de verdade,
e se às vezes demonstra severidade,
é para te educar,
e para a vida te preparar.
Vamos, dê-me agora um beijinho,
para selar nossa amizade.”

Voltava para mim a felicidade.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Loucura

Desde que eu era pequeno,
Pequeno mesmo,
Ouço meu pai falar sobre algo simples,
Toda vez que brigava com a minha mãe.
O que ele dizia, naquela idade, me deixava impressionado.
E até, por vezes, com medo.
Soava como uma profecia, algo assim.

“Nossa cabeça, nossa mente sadia, é como um filtro,
Que tem sempre uma vela dentro dele a gotejar.
Paciente, sábia e na medida.
Quando enchemos demais o filtro de água,
A vela não dá conta de filtrar,
E o filtro todo transborda.

Assim é com a cabeça.
Se não controlamos nossos pensamentos,
E passamos a encher a cabeça dos piores sentimentos negativos,
Dados por terceiros,
Ela se enche, transborda e perde o controle."

E assim foi.
Minha mãe não soube poupar o filtro que tinha.
Encheu-o até não poder mais reverter a situação.
Criou toda uma história sobre ciúmes. Perdeu a cabeça.
Perdeu o casamento, seus filhos e a si mesma.
No ápice do descontrole de sua vida, perdeu-a.

Ganhou, ao fim, a paz para a mente intranquila.
Para sempre.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Café para mestres

Esses dias assisti ao documentário Café dos Maestros (Cafe de los maestros), lançado em dezembro do ano passado e ainda em cartaz em 2009 em algumas salas. A curiosidade veio por meio de um nome impresso no panfleto de anúncio do longa – Gustavo Santaolalla. Produtor, Santaolalla vem fazendo bonito no que diz respeito a trilha-sonora de grandes filmes. Em 2005 levou o Oscar pela melhor trilha, em O Segredo de Brokeback Mountain (de Ang Lee) e em 2006 repetiu o feito em Babel (de Alejandro González). Simplesmente adoro o trabalho dele.
Pode parecer engraçado, mas é real. Para mim, que não conheço quase nada sobre tango, confiei no projeto só por ler Santaolalla na ficha técnica. E valeu a pena.
No documentário, o músico-produtor faz o papel dele mesmo: um moleque amante da música, sobretudo a argentina, que recebe com grande devoção, empolgação e respeito, nomes importantíssimos da era de ouro do tango daquele País, mais precisamente em Buenos Aires, dos anos 40 em diante. Moleque sim, mas somente por causa da idade do produtor, perto dos 80 anos da cantora Lágrima Rios, por exemplo, uma entre os 17 artistas homenageados.
O documentário emociona. Sobretudo pelo som rico, forte e marcado do tango. Seja conhecedor ou não desse estilo musical, o título é válido. É lindo, é tocante ver o choro extremamente agudo dos violinos e violas, sentir as notas graves do piano junto com o contrabaixo, disciplinados que são. A presença do tradicional bandaneón, que muitos associam direto a uma sanfona, é essencial: dá a lerdeza a tempo que a música precisa. Dá vontade de aplaudir, em plena poltrona do cinema, ao final de cada peça apresentada. E a dança tango, principal referência tida por grande parte das pessoas, também aparece. Casais de todas as idades são registrados dançando em diversos cenários da capital argentina, bem como imagens antigas e boêmias dos anos 40, 50 e 60.
Ver a emoção do homens velhos, de cabeças brancas, que sentem-se felizes em estarem se encontrando novamente, é uma beleza à parte. Nostálgica e saudosa.
O filme todo baseia-se em uma série de ensaios, testes, audições, em um estúdio, em preparação a um grande evento que está por vir: um concerto de tango no Teatro Colón de Buenos Aires, organizado, entre outros, por Santaolalla. Para muitos dos grandes nomes, que faziam muito bem suas músicas enquanto jovens e de bar em bar, pisar naquele palco em tempos modernos, foi uma oportunidade a eles nunca dada antes.
O filme é simples, não há narração e só peca por não apresentar de pronto, os nomes das personagens reais do tango, tão logo aparecem (eles são identificados apenas no fim do filme [uma falta importante, sobretudo àqueles que, como eu, não os conhece]). Uma câmera registra dezenas de gestos, emoções e principalmente música, muita música da Argentina. Também no final o documento lembra em especial, três dos 17 maestros (mestres em espanhol), que foram homenageados e não viveram para se verem na obra em que participaram com tanta propriedade, agora finalizada e apresentada nas salas de cinema, a partir do fim do ano passado. Mas fiquei feliz, pelo menos por saber que, em vida, tiveram oportunidade de serem lembrados e homenageados a tempo. De forma grandiosamente merecida.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Álibis

A mãe ainda pensa que sua filha é inocente...
Não é.
Com seus homens,
Aprendeu lições que nem a mãe, após anos de casamento, aprendeu.

Começou com os mais novinhos,
Descobriu os experientes.
Aos 21 anos a filha teme,
Entre outras coisas, em atender o pedido da mãe,
Que quer acompanhá-la ao ginecologista.
“Para apoiar minha filhinha que nada conhece dessas coisas”.

Não pode conversar sobre certos assuntos. “São impróprios”.
Mamãe morreria se encontrasse na gaveta que vasculha, em dias de faxina,
Uma camisinha, uma peça íntima mais ousada,
Algum apetrecho.

Enquanto isso, a menina estica ao máximo o dia para a consulta.
E vive sua vida...
Usa seu amigo de álibi,
E usa a confiança que a mãe tem nele,
Para, sem ele, sair e experimentar por si só.