quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Oficiais em espetáculo

Na noite de quinta-feira, dia 9, o jovem Palácio das Artes proporcionou a seus visitantes espetáculo raro. Em alusão ao ano em que se comemora os 60 anos da Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo, o palco da Sala de Serafim Gonzalez recebeu a Camerata e Coral da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Como já anunciavam os poucos órgãos de comunicação locais, a apresentação seria única. E foi.

A curiosidade se deu logo no anúncio: um grupo musical composto por oficiais da Polícia Militar e um coro formado somente por homens. O valor foi simbólico: um quilo de alimento não perecível, revertido para a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), de Praia Grande. Para um apreciador da música clássica, do canto coral, instrumental e orquestra, ou simples telespectador, foi um momento único de presenciar um grupo de tamanha qualidade e audácia musical, que nem o ruído dos aparelhos de ar condicionado da sala, pôde atrapalhar.

O primeiro número chamou atenção. A falta de maestro inquietava, mas a camerata iniciou a primeira peça, Rondeau from Abdelazer (H. Purcell 1659-1695). O pequeno grupo, composto por flauta, violinos e violas, teclado, violoncelo e contra-baixo, executam de forma imponente e levemente divertida, a canção. Destaque para o arranjo do cravo, característico nas obras de Purcell, que ali contracenou com o constante silenciar perspicaz dos violinos, que quando pareciam aos poucos emudecer, retornavam fortes e com tudo. Ao fim da peça é anunciado. “Era só um aquecimento.”

Entra o maestro Ismael Oliveira e a apresentação é iniciada, agora com Quarteto em Sol maior (W.A.Mozart 1756-1791). Solenidade e pompa tomam conta do local, que tornou-se um castelo imperial. Destaque para arranjo da dupla de violas. Na terceira peça, entra o coro, que canta uma composição pouco conhecida, mas de muita cor. Iniciada pelos baixos, a letra fala da “paz, que começa em mim”, seguida pelos tenores, que por sua vez são cobertos pelas terças dos companheiros de naipe. A partir daí, camerata e coro executam peças populares, com a mesma maestria das clássicas anteriores. Em Caçador de mim (Luiz Carlos Sá e Sérgio Magrão), Meu país (Ivan Lins e Vitor Martins) e em outras canções, os cantores solistas arrancaram suspiros, com interpretações românticas e cheias de personalidade.

Ao final, a peça Aleluia (Haendel 1685-1759), do famoso oratório O Messias, mostrou todo o poder de inovação do grupo. Peça clássica e perfeita quando executada por um coral completo, de homens e mulheres, esta versão não deixou nada a desejar. O cravo dava o tom e os contracantos soaram, como ecos, repetindo, respondendo, dialogando entre si, ora diante de subida infindável de tons. Após muitas emoções, em mais peças clássicas de Carlos Gomes, Pucini e outros populares, o público saiu com a curiosidade saciada, conhecendo um belo grupo de artistas da melhor categoria.


Fotos: Richard Aldrin

2 comentários:

D disse...

Olálá. Mostrou o concerto completo a um estranho neste escrito. Votos de felicidade!

Eli Carlos Vieira disse...

Thank ya dear Di! You know, there're things that only the good music can provide us!
Thanks by your visit!
eLi
:-]