quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Aquele que tem a voz





Problemas todos têm. Conflitos e traumas carregados, qualquer um está passível de ganhar. Agir é a saída, mas nem sempre o caminho mais fácil. Apoio é fundamental, mas nem sempre é oferecido ou quando se apresenta é transformador demais, joga verdades na cara e causam medo num primeiro momento, até, por fim, ser recebido e aceito.
‘O discurso do rei’ (The king's speech, 2010, Tom Hooper) é um dos favoritos na corrida pelo Oscar 2011 e faz por merecer quase todas as 12 indicações que possui. Uma ótica diferente e suave ao extremo. Um filme que passa serenidade quase que infantil, transita entre cenas que beiram o cômico de bela sutileza e a sensibilidade tal qual a de quem sofre de gagueira. Muito claro, direto e sem abordar o épico de forma pesada.
Um filme que trata de um problema difícil de ser enfrentado, sobretudo a um ícone da política de seu país. É a gagueira que se apresenta em momento em que a voz se faz mais do que esperada: é fundamental para a situação vivida de prenúncios da guerra. Destaques: para as cenas muito bem elaboradas de ângulos levemente acima da cabeça do rei (fotografia de Danny Cohen), mostrando uma autoridade em suas aflições, desafios e medos, sem ser apelativo; e destaque ainda para a junção perfeita entre o principal Colin Firth (rei George VI) e seu polêmico ajudante Geoffrey Rush (o fonoaudiólogo nada convencional Lionel Logue). A atriz que faz o papel de esposa do rei, Elizabeth (Helena Bonham Carter), aparece de forma notável, discreta, mas marcante, muito longe das mulheres exageradas e exóticas de "Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da rua Fleet", "A fantástica fábrica de chocolate", "Alice no país das maravilhas", além dos "Harry Potters".
Filme válido, mensagem direta e obra muito feliz ao abordar de forma serena (sem dramalhões de arrancar lágrimas ou agitar as cenas num quase suspense) problemas que são o terror e constrangimento para muitas pessoas.

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