sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Uma pitada de Olavo


Definitivamente Olavo Bilac é meu poeta preferido! E nem sou muito conhecedor de poesias e os melhores autores do gênero...
Adoro lê-lo. Sua delicadeza com as palavras, aliadas à extrema simplicidade de seus significados, vêm por desenrolar aquele complicado rolo de linhas entrelaçadas – os sentimentos, tão difíceis de serem exprimidos....
Não tem outro! Coisa de fã.

Deparei me com esse texto num concerto de uma orquestra com o tema pascal, devido à época da Semana-Santa, guardada pelos católicos. Quando ouvi, me impressionei. Sei lá, coisas que simplesmente ficam na cabeça. Ele vem de um livro psicografado por Chico Xavier, que deu autoria a Bilac.

A CRUCIFICAÇÃO
Olavo Bilac (Rio de Janeiro,16/12/1865 – 28/12/1918)

Fita o Mestre, da cruz, a multidão fremente,
A negra multidão de seres que ainda ama.
Sobre tudo se estende o raio dessa chama,
Que lhe mana da luz do olhar clarividente.
Gritos e altercações! Jesus, amargamente,
Contempla a vastidão celeste que o reclama;
Sob os gládios da dor aspérrima, derrama
As lágrimas de fel do pranto mais ardente.
Soluça no silêncio. Alma doce e submissa,
E em vez de suplicar a Deus para a injustiça
O fogo destruidor em tormentos que arrasem,
Lança os marcos da luz na noite primitiva,
E clama aos Céus em prece compassiva:
“— Perdoai-lhes, meu Pai, não sabem o que fazem!...”

9 comentários:

Clélia Riquino disse...

Caro Eli,

Surpreendi-me ao saber que você gosta de Olavo Bilac! Nada contemporâneo ou moderno, condizente com a sua idade... Ser diferente é, mesmo, muito legal!

Dei uma pesquisada e encontrei, dele, um poema qu’eu também gostava, qdo jovem:

A velhice

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
______________

procela [Do lat. procella]
Substantivo feminino.
1. Tempestade marítima: “Ora embalado pelas bravas ondas / Do oceano em fúria grande, ouvindo os uivos / Da procela a bramir forte e medonha” (Casimiro de Abreu, Obras, p. 18).
2. Figurado Agitação extraordinária; tumulto.


bjo,
Clé

Eli Carlos Vieira disse...

Adoro esse também....ele tem aí, a capacidade de falar de velhice com uma ternura e cor muito elevados, talvez pelos elementos que ele utiliza para ilustrar!

Mas além de Elis, sou suspeito para falar de Olavo Bilac.....

Bj
:-]

Kagê disse...

A vida é cheia de surpresas. Algumas muito boas, como esta de saber que vc curte Bilac. Pesquisei tb (nao conheço as obras dele, confesso) e achei esta preciosidade, trecho de In Extremis, de Alma Inquieta:

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...


Ah, e sobre a poesia declamada naquela noite, foi na lingua italiana.
Beijos
Ka

Eli Carlos Vieira disse...

Super surpresas!
Pois � K�tia...e na hora de fazer esse post, que coisa doida, eu fiquei entre o texto que publiquei e esse do qual vc citou um trecho!

A for�a das palavras, a imagem muito forte tamb�m...enfim, um amor extremo, como o t�tulo faz alus�o....

E quanto �s surpresas sobre meus gostos...na verdade cada um tem seus "mist�rios" eheheh

:-]

Kagê disse...

Desolazione del povero poeta sentimentale

Autore: Sergio Corazzini


Perché tu mi dici: poeta?
Io non sono un poeta.
Io non sono che un piccolo fanciullo che piange.
Vedi: non ha che le lagrime da offrire al Silenzio.
Perché tu mi dici: poeta?
Le mie tristezze sono povere tristezze comuni.
Le mie gioie furono semplici,
sempilci così, che se io dovessi confessarle a te arrossirei.
Oggi io penso a morire.
Io voglio morire, solamente perché sono stanco;
solamente perché i grandi angioli
su le vetrate delle cattedrali
mi fanno tremare d'amore e di angoscia;
solamente perché, io sono, oramai,
rassegnato come uno specchio,
come un povero specchio melanconico.
Vedi che io non sono un poeta:
sono un fanciullo triste che ha voglia di morire.
Oh, non meravigliarti della mia tristezza!
E non domandarmi;
io non saprei dirti che parole così vane,
Dio mio così vane,
che mi verrebbe da piangere come se fossi per morire.
Le mie lagrime avrebbero l'aria
di sgranare un rosario di tristezza
davanti alla mia anima sette volte dolente
ma io non sarei un poeta;
sarei semplicemente, un dolce e pensoso fanciullo
cui avvenisse di pregare, così, come canta e come dorme.
Io mi comunico del silenzio, cotidianamente, come di Gesù.
E i sacerdoti del silenzio sono i romori,
poichè senza di essi io non avrei cercato e trovato il Dio.
Questa notte ho dormito con le mani in croce.
Mi sembrò di essere un piccolo e dolce fanciullo
dimenticato da tutti gli umani,
povera tenera preda del primo venuto;
e desiderai di essere venduto,
di essere battuto
di essere costretto a digiunare
per potermi mettere a piangere tutto tutto solo,
disperatamente triste,
in un angolo oscuro.
Io amo la vita semolice delle cose.
Quante passioni vidi sfogliarsi, a poco a poco,
per ogni cosa che se ne andava!
Ma tu non mi comprendi e sorridi.
E pensi che io sia malato.
Oh, io sono veramente malato!
E muoio, un poco, ogni giorno.
Vedi: come le cose.
Non sono, dunque, un poeta:
io so che per esser detto: poeta, conviene
viver ben altra vita!
Io non so, Dio mio, che morire.
Amen.

Anônimo disse...

Sobre o Blog em geral, adorei e te admiro mais ainda... Sobre o Olavo Bilac, te deixo um soneto que acho que vc conhece, e que acho genial:

"Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar [me vejo
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boa a doçura do teu beijo.

E as justas ambições que me [consomem
Não me envergonham: pois maior [baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior [pureza
Ficar na terra e humanamente amar."

E pre terminar, uma frase de Osvaldo Montenegro que casa bem com o espírito de teu Blog: "Que a Arte nos aponte uma resposta, ainda que ela não saiba... E que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer...
Abraço e conta comigo.
Fernando.

Eli Carlos Vieira disse...

Amigo Fernando,
É muito bom tê-lo aqui.
Obrigado por visitar e compartilhar desse prazer, que é ler Bilac
Conheço sim esse texto e adoro o clima jovial e positivo que ele tem!
Abração
eLi
:-]

Anônimo disse...

Esse texto (A Crucificação) NAO É DO BILAC. Foi escrito pelo Chico Xavier, que creditou a ele. Está publicado no Parnaso de Além Tumulo.

Note que o 11o primeiro verso está além de tudo, quebrado.

Eli Carlos Vieira disse...

Acredito que nesse campo seja complicado entrar, caro "Anônimo"...

Não questiono aqui a autoria do texto, mas sim a beleza e o lirismo extremos que aprecio nessa escrita.
Chico Xavier, quando psicografou o livro, deu autoria a Bilac, então, acredito que eu possa usá-lo sim, como texto de Bilac. Mesmo assim, obrigado pela visita!