domingo, 6 de novembro de 2011

Divã

Ela chega, diz oi e pede licença,
Antes de perguntar sobre um itinerário.
Logo se dá por satisfeita:
Interrompe o informante,
Ficando, assim, sem a informação completa que "necessitava".

Como se a primeira pergunta fosse uma desculpa,
Um pretexto - uma batida na porta a espera de um "pode entrar!",
Ela se põe a desabafar ao informante.

O informante, este o deixa de ser, de imediato,
Passando a ouvir curiosamente os fatos,
Não sabendo se está admirado:
Com a simplicidade/banalidade do caso narrado,
Ou com a facilidade com que pessoas abrem suas particularidades
A estranhos.

Em menos de dez minutos
O ouvinte fica sabendo:
Que ela tem uma colega de trabalho que mente,
Que ela não gosta de ficar ouvindo as mentiras dessa colega,
Que ela acredita passar a ser co-autora da mentira da colega (ao ouvi-la),
Que ela não concorda com o fato de a colega entregar atestado médico falso,
Que ela entende, porém, que a colega precisa dar atenção a seu filho de 2 anos,
Que mora com a avó,
Que não tem pai,
Que este pai (do garoto de dois anos) era viciado em álcool,
Que é bom para ela (a colega) respirar um pouco, tirar um descanso,
Que ela não delatará a colega em seu dia de falta "por motivos de saúde"
E que, no fundo, essa colega não é daquelas que se podem confiar!

Ao se preparar para iniciar outro relato seu,
Agora sobre a própria filha,
Que está na puberdade,
Que quer namorar,
O ônibus que ela esperava chega.
Ela se despede e agradece, com um "Muito obrigada!".
Agradecimento.
Mesmo que a informação que ela pedira
Tenha sido dada incompletamente.

7 comentários:

Anônimo disse...

Sublime.

Eli Carlos Vieira disse...

Achou mesmo?!

:-]

D disse...

Well composed! :)
I think what is straight from the heart works best with any reader - whether it is in a known language or not... Keep writing, keep composing!

Vampira Dea disse...

Eu tenho uma vizinha assim rsrsrs

Eli Carlos Vieira disse...

Thx, dear!!! Even in different languages, the fellings are the same!
Shukryia for always visiting here!
Beijos!!

Vampira! Sendo vizinha posso imaginar que ela te "alugue" às vezes, não?
É legal até dar ouvidos e tals, mas tem dias que não estamos tão nessa vibração, não é?!
Beijão!!!

Carolina Corrêa disse...

Adooooooroooo esse texto!!

Eu sempre reclamei de pessoas que vinham me parar do nada pra ficar falando da própria vida! Depois de um tempo eu pensei que talvez elas precisassem disso, que seria uma boa ação ouví-las. Conversei com muita gente, ouvi muitas histórias, foi um período interessante, até emocionante. Hoje já estou na fase dos fones de ouvido e celular na cara. Talvez seja o momento de voltar a escutar o outro como antes... Talvez não... A natureza dirá!

Eli Carlos Vieira disse...

Fica a reflexão, Carol!
Todo mundo tem uma história para contar, mas cadê os ouvintes?