quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Café para mestres

Esses dias assisti ao documentário Café dos Maestros (Cafe de los maestros), lançado em dezembro do ano passado e ainda em cartaz em 2009 em algumas salas. A curiosidade veio por meio de um nome impresso no panfleto de anúncio do longa – Gustavo Santaolalla. Produtor, Santaolalla vem fazendo bonito no que diz respeito a trilha-sonora de grandes filmes. Em 2005 levou o Oscar pela melhor trilha, em O Segredo de Brokeback Mountain (de Ang Lee) e em 2006 repetiu o feito em Babel (de Alejandro González). Simplesmente adoro o trabalho dele.
Pode parecer engraçado, mas é real. Para mim, que não conheço quase nada sobre tango, confiei no projeto só por ler Santaolalla na ficha técnica. E valeu a pena.
No documentário, o músico-produtor faz o papel dele mesmo: um moleque amante da música, sobretudo a argentina, que recebe com grande devoção, empolgação e respeito, nomes importantíssimos da era de ouro do tango daquele País, mais precisamente em Buenos Aires, dos anos 40 em diante. Moleque sim, mas somente por causa da idade do produtor, perto dos 80 anos da cantora Lágrima Rios, por exemplo, uma entre os 17 artistas homenageados.
O documentário emociona. Sobretudo pelo som rico, forte e marcado do tango. Seja conhecedor ou não desse estilo musical, o título é válido. É lindo, é tocante ver o choro extremamente agudo dos violinos e violas, sentir as notas graves do piano junto com o contrabaixo, disciplinados que são. A presença do tradicional bandaneón, que muitos associam direto a uma sanfona, é essencial: dá a lerdeza a tempo que a música precisa. Dá vontade de aplaudir, em plena poltrona do cinema, ao final de cada peça apresentada. E a dança tango, principal referência tida por grande parte das pessoas, também aparece. Casais de todas as idades são registrados dançando em diversos cenários da capital argentina, bem como imagens antigas e boêmias dos anos 40, 50 e 60.
Ver a emoção do homens velhos, de cabeças brancas, que sentem-se felizes em estarem se encontrando novamente, é uma beleza à parte. Nostálgica e saudosa.
O filme todo baseia-se em uma série de ensaios, testes, audições, em um estúdio, em preparação a um grande evento que está por vir: um concerto de tango no Teatro Colón de Buenos Aires, organizado, entre outros, por Santaolalla. Para muitos dos grandes nomes, que faziam muito bem suas músicas enquanto jovens e de bar em bar, pisar naquele palco em tempos modernos, foi uma oportunidade a eles nunca dada antes.
O filme é simples, não há narração e só peca por não apresentar de pronto, os nomes das personagens reais do tango, tão logo aparecem (eles são identificados apenas no fim do filme [uma falta importante, sobretudo àqueles que, como eu, não os conhece]). Uma câmera registra dezenas de gestos, emoções e principalmente música, muita música da Argentina. Também no final o documento lembra em especial, três dos 17 maestros (mestres em espanhol), que foram homenageados e não viveram para se verem na obra em que participaram com tanta propriedade, agora finalizada e apresentada nas salas de cinema, a partir do fim do ano passado. Mas fiquei feliz, pelo menos por saber que, em vida, tiveram oportunidade de serem lembrados e homenageados a tempo. De forma grandiosamente merecida.

7 comentários:

Anônimo disse...

é um belo filme!! emociona!
bj

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Eli,

O tango tem me emocionado cada vez mais. E Buenos Aires me seduz como nenhuma outra cidade entre as que conheço.

Eli Carlos Vieira disse...

Andrea, realmente, emoção é o que não falta nos 90 minutos! Contagia!

Arnaldo, confesso que nunca fui um admirador ou um "amante latino" de ciudades hermanas...Talvez por conta da falta de um contato mais direto com elas - de não estar lá!

Obrigado a vocês, pela visita.

Nico Nicodemus disse...

Fiquei bem curioso acerca do filme. A música de Santaolalla me agrada muito: como você, também confio no que passou pelas mãos dele. O tango me atrai bastante, apesar de conhecer pouquíssimas coisas do gênero: sempre fui mais de Piazzolla do que "de la vieja guardia" (será que é assim que se escreve?) Você sabe se esse filme foi lançado em DVD?
Até mais!

Eli Carlos Vieira disse...

E viva a Santaolalla!
Ainda não saiu em DVD, Nico. Pelo menos não encontrei para comprar ainda. Talvez por ele estar ainda em cartaz!

Eu também não sou expert em tango, não. Mas me sinto ligado á força do som, da expressão.
Adorei ouvir Mariano Mores (a canção "Tanguera", principalmente, com orquestra).
Emoção mesmo!

Abração e obrigado pela visita!

Vanessa Dantas disse...

Vi o trailer do filme e me pareceu muito belo mesmo! Ainda não fui! A Andrea já comentou no blog dela e agora você reforçando me parece que não resta outra saída... Beijo.

Eli Carlos Vieira disse...

Vá mesmo,se puder!
Belíssimo!

Beijo!