terça-feira, 3 de maio de 2011

Impaciência

O motorista senta na cadeira,
Prepara-se e inicia a condução do ônibus.
Assim que o carro sai do ponto, um senhor faz sinal para ele,
Por pouco não perdia aquela linha.

O passageiro entra e passa seu cartão, o ônibus sai.
O cartão não funciona. Ele tenta novamente. Nada.
Recorre ao motorista, que há pouco abrira a porta a ele,
Mesmo fora do ponto.

“Motorista, meu cartão não funciona.”
“Tentou passar de novo?”
“Sim, tentei.”
“Você não teria utilizado ele há menos de 30 minutos?”
“Sei lá, eu quero passar!”

Esta resposta, atravessada,
Foi suficiente para desencadear ira no motorista.
“Você espera meia hora e a catraca libera.”
Ao que o passageiro, também estressado, responde:
“Não quero nem saber: vou passar!”
“Ah, não vai não, seu filho ******...”

Enquanto este breve desentendimento ocorria
Todos os (muitos) passageiros assistiam à cena incrédulos.
O bate boca repetitivo estendeu-se.

Até que o motorista, tão bondoso,
Ao abrir a porta ao passageiro, mesmo fora de ponto,
Mostrou-se um homem bruto e sem respeito,
E exigiu que o outro pagasse em dinheiro.

E o passageiro,
Tão gentil em agradecimentos
Àquele condutor que lhe abriu a porta,
Mesmo fora do ponto,
Agora mostra-se ignorante e intolerante:
“Não vou mesmo! Tenho cartão, tenho dinheiro, você terá de aceitar.”

No auge da briga, o motorista para o coletivo e decide:
“Só por este desaforo agora você vai sair do ônibus!”
“Não vou mesmo, eu tenho dinheiro, você não pode fazer isso!”
“Ou sai ou eu não saio com o carro.”

E o ônibus está parado na avenida e tem suas luzes desligadas.
Agora os passageiros, que até então riam,
Passam a sentir-se afetados pelo desentendimento.
O motorista fica discutindo ali por mais uns cinco minutos.
O ônibus em silêncio, no escuro, e os dois a duelarem.

Após a cena patética, digna de dois irmãos de cinco anos,
O passageiro decidiu ceder e descer.
“Desço por vocês, passageiros, que têm pressa, e não por este idiota”,
Responde o homem, que ficou sem graça de ser, de certa forma,
Causador desta confusão.
Desceu e foi esperar o próximo carro da linha.
E o ônibus saiu.

Se o passageiro não tivesse sido tão duro em sua exigência,
A de passar com o cartão, mesmo sabendo que não devia,

Se o motorista tivesse tipo mais calma em responder à agressividade
Das palavras do passageiro, afinal tinha a razão,

Se ambos tentassem utilizar-se da comunicação,
Esta ceninha infantil não teria ocorrido.

Falta paciência, falta tolerância, falta ponderação.
Falta humanismo, falta cordialidade.
Falta bom senso, falta compreensão.
Falta colocar-se no lugar do outro.
Falta.

4 comentários:

Simone (Totalmente Exagerada!) disse...

Falta educação!!
Até parece que vi a cena.
Você escreve muito bem, viu Eli?
Adorei o texto!
Acho que essa linha era lá dos ônibus de Santo Amaro hahahaha.
Beijos.

Eli Carlos Vieira disse...

Fiquei impressionado!
Mas é #fato: trânsito é um lugar onde qualquer anjo solta pelo menos um palavrãozinho!
Mas que as pessoas estão intolerantes com o próximo, isto estão!

Beijo!

Carolina Corrêa disse...

Falta empatia. Muita! Falta aprender a não vencer todas as vezes. Falta assumir as próprias ações. Falta olhar mais pra si mesmo, do que apontar o dedo pro outro. Falta percepção, vontade, abertura, fragilidade, aceitação.
Falta tempo. Talvez o tempo traga isso tudo...

Eli Carlos Vieira disse...

Talvez o tempo mesmo faça isso!
Se vai ser tardio ou não, aí é uma conversa do tema "ações e consequências"!