quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ajudando a partir

Não é qualquer um que está preparado para mudar radicalmente de vida. Raros também são os que fazem essa alteração por decisão própria, como se fosse um evento agendado a curto ou médio prazo em suas agendas. Se o campo é o profissional então, mudanças bruscas demandam cautela em excesso e provocam até medo, pois estão em jogo elementos como ideologias, status e estabilidade (principalmente financeira). Para sobrevivência profissional, o mercado exige cada vez mais flexibilidade de candidatos, seja para trabalhar como músico de orquestra ou preparador de corpos para sepultamento.

A Partida, (do título inglês Departures e do original Okuribito) é um longa japonês premiado com o Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro e que é exibido agora no Brasil. A trama expõe o desemprego de uma forma brilhante, impressionante e muito bem concebida. Ele é, sobretudo, eficaz, fazendo com que aquele que assiste, reflita sobre quando é hora de arriscar na sua vida.
No longa, o experiente ator japonês Masahiro Motoki vive o jovem Daigo, que encontrava-se estável no emprego de violoncelista de uma importante orquestra em Tóquio. Após a notícia de falência do grupo e o desemprego inesperado, o músico se vê em sua primeira decisão mais difícil: deixar de lado, pelo menos temporariamente, o que mais gostava de fazer. E ele o faz, afinal era preciso, acima de tudo, sobreviver.

Após um anúncio no jornal, Daigo vê uma possibilidade. Ao chegar na agência empregadora, percebe que o trabalho não é o que pensava, ou pelo menos não era o que estava habituado a fazer. Mas como nada parecer ocorrer ao acaso, ele tenta, arrisca e ver onde isso vai dar. Nessa busca de um caminho, o rapaz aprende não só o novo ofício de lavar corpos antes de colocá-los no caixão, mas descobre ali sua vida.
A partir da decisão de prosseguir no ofício (que o remunera muito mais do que a orquestra), o rapaz enfrenta não somente tabus e preconceitos próprios, mas também a desaprovação da esposa, de amigos e do bairro em que é conhecido. Dos temores iniciais sobre suas atribuições às ânsias de vômito em algumas situações, tudo é facilmente superado, quando ele realmente encontra o que procurava e o que realmente passou a importar para ele: o sentimento de realização.

E tudo passa a ficar mais simples e mais prazeroso de encarar a cada dia. Daigo percebe que nada pode ser tão difícil ou insuperável, e que não há bom ofício ou profissão vergonhosa: há aquele trabalho em que a pessoa se identifica ou não, simplesmente. E, uma vez nessa profissão de sua vida, o jovem se torna destaque, o mais dedicado e o melhor profissional que se conhece no bairro.
Um filme muito bem feito, que alia sutilmente cenas naturais que levam às risadas e também passagens de fazer chorar - tudo de forma elaborada. Humor na medida certa, no ponto, sem ser gratuito. Drama não por drama somente, mas a ponto de incentivar a reflexão, o "se colocar no lugar", se sentir como o personagem no telão, mas sobretudo se voltar a si, humano. Daquelas obras capazes de mudar pensares, atitudes e levar pessoas a repensarem seus tabus, preconceitos e principais bloqueios. Destaque para a trilha sonora, responsável por grande parte do teor emotivo das cenas - é o violoncelo em destaque.




6 comentários:

Anônimo disse...

Realmente, foi uma obra incrível e que me despertou curiosidade em relação aos inúmeros outros filmes japoneses. O que é de se admirar é a forma de como os autores nipônicos escrevem suas histórias. Elas são tocantes, eles pensam em tudo e sabem, como poucos, mexer com o sentimento das pessoas.

Eli Carlos Vieira disse...

É mesmo curioso, Carla!
Normalmente temos os japoneses como pessoas extremamente frias, no que diz respeito à demonstração de sentimentos. Mas na hora de passar esses sentimentos para a música, telas e artes em geral, eles o fazem com muita propriedade!

Beijo, Carla!

Ives Nelson disse...

Ótima dica de filme para o final de semana! Valeu Eli... depois de assiti-lo entrarei com um comentário acerca!

Abração!

Eli Carlos Vieira disse...

Amigo, faça isso!
O filme é mesmo muito bom.
Esperarei por suas impressões! Não deixe de passá-las!

Abração, Ives!

Jairo Borges disse...

Mt bom msm esse filme! Me lembro de ter baixado na época do óscar, e é incrível realmente a lição q o filme passa. Não é de surpreender q tal lição de apredizádo tenha vindo de nossos amigos orientais, mt mais atentos as exencias da vida q nós! Abçs!

Eli Carlos Vieira disse...

A sabedoria oriental, muito além do que a maioria dos ocidentais costuma considerar importante.
Mas, por outro lado, continuo a defender que eles, principalmente japoneses e chineses, são muito frios e "reservados" quando o assunto é demonstração de sentimentos aos entes queridos. Isso fica bem expresso no filme também!
Obrigado, Jairo. Sempre colaborando aqui no espaço!

Um abraço!