Bombas, granadas e outros meios artifícios,
Que tiravam vidas, despedaçavam outras,
E ameaçaram muitas mais.
Em meio ao som explosivo, bruto e sangrento,
Acordes de uma composição barroca,
Solene, piedosa, muito triste,
Com momentos de positivismo, de reação,
E toques de relutância,
Executada apenas por um violoncelo.
Todos os dias, às mesmas e sempre 16 horas,
O violoncelista parava em frente a um prédio,
E executava a mesma canção.
Assim seria por 22 dias.
Pois 22 era o número de mortos,
Que encontravam-se certa vez naquele horário, em uma fila de padaria,
Quando tornaram-se alvos de uma bomba.
E perderam para sempre suas histórias.
Quem passava por perto,
Em busca de algum lugar com água para sobrevivência, ouvia.
Quem permanecia em casa,
Por medo e também sobrevivência, também ouvia.
O som ecoava e por alguns minutos dava esperança e alimento.
O músico não sabia ao certo do que, de fato, se tratava aquele ato,
Protesto, homenagem ou luta.
Simplesmente algo o movia todos os dias,
Em seu traje de gala, indiferente aos tiros ou ameaças.
E até a uma possível nova bomba ali.
O protesto se seguiu até o 22º dia,
Sem que o artista fosse eliminado.
Sem que seu adágio fosse sequer interrompido,
Sem que seu espírito de revolta desaparecesse.
Talvez a força esteve mesmo em seu discurso,
Em sua música,
Em sua música,
Em sua luta em clave de Fá,
E com muito respeito.
Aos mortos, à vida e à liberdade.
Aos mortos, à vida e à liberdade.
6 comentários:
Tão tocante quanto belo! Queria eu poder cumprimenta-lo com uma reverência!
É daqueles caras que, quando tudo está (ao menos parece) perdido, acha uma alternativa de amenizar as dores. Merecem mesmo reconhecimento!
Abração.
Ótimo! Mt real! Me lembrei de o pianista!
Realmente daria um belo filme. Lembra muito O Pianista.
Abraço
Oi Eli. Td bem? Em primeiro lugar, desculpe-me, acabei retirando um post sobre jogos psicológicos do meu blog, porque achei que posso buscar uma forma clara de falar sobre eles, e infelizmente com isso tive de perder um comentário seu. Desculpe-me.
Bom, quanto ao violoncelista, vc sabe o nome dele?
Acho que ele encontrou uma maneira das mais poderosas para rebelar-se. O cello virou uma arma, uma esperança- que é o que nos é tirado de forma abrupta e crueldurante a guerra. A arte produzida como forma de representação e simbolismo
atuante, durante o próprio cair das bombas, impressiona ! No mínimo, pela ousadia. Completa-se pela eficácia de uma maneira de dizer aos que partem que a vida existe .Bravissimo.
bjs
ele me faz pensar sobre a arte, esta que se vende, esta que fica em casa.
Acho que a arte é para isso mesmo, né? para dar o seu recado, e não apenas para ludibiar o artista de que ele é sensivel.( ai, o auto-elogio, como cai mal)
Fora isso, o cellista, se morresse, morreria fazendo o que mais gosta. Isto é uma escolha inteligente , bonita e verdadeira.
Oi, Nora!
O músico citado é Vedran Smailovic. Protagonizou mesmo uma belíssima passagem, que amenizou os ocorridos em Sarajevo.
Ele utilizou mesmo a arma que tinha. Fazendo o que de melhor sabe fazer e com certeza causou um efeito muito forte, ressoou, se fez ouvir em seu protesto!
Há um livro que adaptou essa história e que me incentivou a escrever esse post.
É o "Violoncelista de Sarajevo", de Steven Galloway. A leitura vale sim, pela narrativa, apesar de erros e trechos "estranhos", por conta da tradução adotada.
Enfim...para mim, a arte não deveria ter proprietários eternos: deve ser no mínimo pública. É expressão!
Beijão, Nora! Obrigadíssimo pela colaboração aqui.
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