quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um trocado para ajudar

Ela não tem nada.
Entre suas escolhas para esta noite estão
Em qual semáforo irá pedir dinheiro,
Ou em qual lugar ela terá mais lucro.

Agora, ela está no ônibus.
Olha as pessoas que entram,
Que saem.
Sorri, fecha os olhos,
Às vezes pensa que realmente existe.
É quando alguém estranho a olha,
Estranhando o sorriso dela,
Em sua sujeira e falta de cuidado próprio.

Agora, ela olha para o banco de trás.
E um rapaz a olha, de frente.
Belos olhos observando,
Tentando adivinhar o que "essazinha" busca nele.
É quando, por um pequeno instante,
Ela pensa que faz parte da vida dele.

Fica tarde, ela ainda tem fome.
Todo o dinheiro que conseguiu
Não foi o bastante para a alimentar,
Em seus desejos naquele dia.

O ônibus chegou onde tinha de parar.
As pessoas estavam descendo.
Ela, mesmo contra sua vontade,
Também tinha de sair dali.
É quando ela realmente percebe que está só.

E assim tem estado há muito tempo.
Os belos olhares para ela,
Que na verdade eram de estranhamento da parte dos “olhadores”,
Não foram suficientes para lhe dar companhia agora.

É hora de dormir.
Sem olhares,
Sem comida, dinheiro, companhia.
Sem ter nada, além de sono.



Na canção, "Menino das laranjas" (Théo de Barros), com Elis Regina:



Na outra canção, "O menino do amendoim" (José Messias), com Trio Esperança:

2 comentários:

Jairo Borges disse...

A rua é democrática porém cruel!

Eli Carlos Vieira disse...

E tem muita gente que tem outras opções nas suas vidas, mas prefere a "facilidade" que a democrática rua oferece (ao menos parece oferecer).
Isso seria liberdade?!

Abração